Aprendi algo recentemente.
Em uma jornada dolorosa de autoconhecimento, Deus mostrou-me que sou o meu maior inimigo, algo que antes eu não via. Depois disso, olhar-me no espelho passou a ser assustador.
Hoje, reconheço-me em um ringue de boxe, em uma luta constante para derrotar um inimigo muito mais forte do que eu, um outro lado de mim mesma, até então desconhecido. (cf. Rm 7:23)
Na plateia, pessoas encapuzadas estão torcendo contra mim, menos Jesus.Ele espera, com olhos de misericórdia e desespero, me vendo ferida.
Tudo que me pergunto é “por que Ele não vem me salvar como me prometeu que faria?”
Olhos de amor que não agem para me salvar? Que não agem para me livrar?
Tento levantar mais uma vez. Sinto que talvez com isso Ele me salve. Ele me prometeu vitória, ela virá. Porém, um golpe me atinge, antes mesmo de conseguir levantar a guarda, antes mesmo de eu conseguir encarar a minha oponente..
É terrível se olhar desse ângulo, caída, destruída, derrotada por si mesma em uma vida que eu tinha certeza que iria mudar. Entretanto, as feridas continuam se abrindo e os roxos não têm a chance de se curar. A cabeça parece não ser mais capaz de aguentar tanta dor, e tudo que quero é achar os olhos Dele na multidão sem rosto.
Choro de dor, olhando para Ele, na esperança de ser salva. Na esperança Dele fazer algo.
Ele chora comigo, estendendo a mão, querendo me tocar. Um dos encapuzados segura seu braço, e o empurra.
O desespero de ter Ele longe de mim é muito maior do que a dor que me acompanha. Grito por Ele com toda a minha força..
Sem compaixão, minha oponente sobe nas minhas costas e imobiliza minhas pernas, puxando-as com toda a força.
“Volta, por favor. Deixa Ele vir. Deixa Ele vir”.
Choro com desespero e dor. Só preciso olhar nos olhos Dele. Se for pra morrer que seja dessa forma.
De repente, todos param. Todos os capuzes caem por terra e reconheço cada um dos olhares pousados em mim. Sou eu, em todos eles. Não apenas no ringue. Ao meu redor, todos torcendo contra mim: sou eu.
Cada versão minha carrega algo diferente consigo . Uma delas tem um livro com meu nome na capa, outra um vestido branco dos pés a cabeça, outra um corpo que com certeza eu nunca tive nessa vida, outra carrega um bebê no colo, outra tem um microfone em mãos, outra tem um diploma, e assim por diante. Dezenas de versões de mim, todas segurando Jesus longe de mim.
Sonhos, planos e objetivos. Meus, apenas eu. Entretanto, nada disso foi capaz de me salvar.
Me sinto envergonhada. A mesma voz que clamava por Ele possuía o coração que O empurrava para longe.
Nada disso tem valor se Ele não estiver comigo.
“Soltem Ele”. Me ignoram, todas, e continuam paradas.
“Deixem Ele passar, agora!”.
Jesus, educado como é, me espera. Seus olhos de fogo estão me consumindo por dentro. Sinto seu calor em minhas entranhas.
Não consigo me mover, mas certamente sei que o quero.
“Deixem Ele”. Falo com o resto das minhas forças.
Todas as mãos se afastam Dele.
“Deixem Ele passar”. Falo baixo, porém ainda firme, com uma ponta de desespero na voz.
Ele caminha acelerado até mim, enquanto estendo uma das minhas mãos. Ele a toma, firmemente, e com um olhar para minha oponente, a joga do outro lado.
Choro sem parar, a dor ainda é forte em mim.
Ele se abaixa e me abraça, enquanto beijo seus dedos. Com uma das mãos Ele toca cada ferida, curando e fechando cada corte, limpando a minha pele.
O Seu cheiro é anestesia para a dor e Seu peito o lugar mais seguro do mundo.
Ele nada fala, apenas me segura, como um bom irmão, um bom Pai. Ele me puxa para cima e me coloca de pé.
Todas ao meu redor encaram minha oponente, agora frágil, acordando no chão. Ela me parece menor daqui.
Aperto as mãos Dele. Não preciso temer. Ele está aqui.
Essa história me traz muitas reflexões acerca do meu relacionamento comigo mesma com Cristo.
A vitória não vem de mim, meu esforço não muda nada. Os meus sonhos não significam nada se Ele não estiver no centro de tudo.
Sem Ele, tudo que eu faço é me machucar com outros amores, como se algum fosse suprir o que preciso.
Eu preciso Dele, preciso sentir o fogo de Seus olhos em meus ossos,olhar para Ele e reconhecer o quanto sou nada,o quanto a humanidade necessita desesperadamente do nome Dele.
Colaboração enviada por Natalia Ferreira.