“Por que não deveríamos fazer algo que prove que realmente somos sinceros em reivindicar ser seguidores Daquele que, embora fosse rico, por nossa causa se tornou pobre?” (Lottie Moon).
Quem foi Lottie Moon?
Filha de Edward Harris e Anna Maria Barclay, Lottie Moon nasceu em 12 de dezembro de 1840. Criada numa grande e saudável família, Moon cresceu como uma criança do velho Sul dos Estados Unidos.
Mesmo seu pai tendo sido membro fundador da Igreja Batista de Scottsville, enquanto criança, Moon não tinha qualquer interesse pela vida cristã, aliás, como dito pela própria, ela era uma garota má.
A aversão de Lottie pelo cristianismo de seus pais pode ser claramente vista nos seus hábitos de domingo. Por guardarem esse dia, sua família preparava a refeição antes, no sábado. Todavia, ao invés de ir às atividades da igreja que tinham no domingo, ela fugia, voltava para casa e preparava sua comida antes de sua família retornar. Com o passar dos anos seu comportamento não mudou, apenas piorou.
Em 1853, quando Lottie tinha 13 anos, seu pai morreu em uma viagem de negócios. Essa situação não a fez mergulhar na fé, pelo contrário, ela manteve-se distante. Um ano depois, ela entrou no Instituto Feminino da Virgínia, no Condado de Albemarle e provou ser uma ótima estudante, especialmente em literatura e línguas estrangeiras. Para a não convertida Lottie, a sabedoria não provinha de Cristo, mas dos estudos clássicos.
A vida de Moon reforça as verdades presentes na história do jovem rico em Mateus 19: o discipulado não se baseia no que trazemos para Cristo, mas no que Ele nos dá; não se baseia no nosso intelecto, mas na nossa fé em Cristo. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6), e sem uma vida diária de fé é impossível sermos os discípulos que Deus nos chamou para ser. Em verdade, Deus não está em busca de pessoas atraentes, Ele está em busca de pessoas simplesmente fiéis, disponíveis e dispostas a aprender. Deus alegremente usa qualquer um que esteja completamente entregue a Ele.
No caso de Lottie Moon, era preciso um milagre de Deus para que seu coração de pedra se transformasse em um coração de carne, e foi exatamente isso que aconteceu no final de 1858.
Conversão
No outono de 1858, John Broadus (pastor da igreja e diretor da escola em que Moon estudava) iniciou uma série de reuniões evangelísticas e de oração. Ele convocou toda congregação a orar pelos perdidos. Certamente, com família e amigos na igreja, Lottie Moon foi um dos nomes pelo qual eles oraram.
Durante aquela semana, houve uma noite em que Moon não conseguia dormir. Um cachorro que latia a manteve acordada e sua mente foi preenchida com pensamentos acerca de seu destino eterno e do estado de sua alma perante Deus. Essa insônia fez com que ela fosse, na noite seguinte, para uma das reuniões. Com o intuito de ir apenas para zombar, de lá ela saiu para orar por toda a noite em seu quarto.
Alguns dias depois de professar sua fé em Deus, foi batizada. Sua confissão foi mais do que um testemunho verbal. Um amigo da família disse que sua mudança foi imediata: “ela estava diferente…naqueles detalhes da vida diária que mais testam o caráter cristão”.
Como Romanos 3 fala, ela não estava buscando a Deus. Enquanto ainda buscava coisas vãs, a graça de Deus caiu sobre seu coração. Pela graça de Deus e pelo poder do Espírito Santo, ela nasceu de novo.
Vida Pré-Missionária
Após sua conversão, ela retornou aos estudos. Mesmo tendo feito inúmeros cursos teológicos antes, agora os buscava com um novo vigor. Apaixonada pelos estudos, ela fez todos os cursos que o Instituto oferecia. Ao se graduar em 1861, era uma das únicas mulheres do Sul com o diploma de Mestre.
Ela manteve-se perto de casa durante a Guerra Civil, mas acabou ensinando nas escolas de Kentucky, Geórgia e Virgínia. Posteriormente ela precisou voltar para casa ao ouvir notícias de que a saúde de sua mãe estava debilitada. Durante os últimos dias de vida de sua mãe, elas conversavam bastante sobre o chamado de Deus para uma vida a serviço do evangelho.
A pergunta – como melhor investir a vida para Cristo? – afetou tremendamente Lottie. Ao que parece, durante esse período, Deus fez nascer no coração dela o desejo de alcançar as nações. Pronta para ação, Lottie começou a dar suporte a dois missionários enquanto ela continuava a ensinar na Geórgia. Pelos dois anos seguintes, o suporte a esses ministros do evangelho começou a inquirir nela mesma o desejo de servir na China.
Vida Missionária
O desejo missionário de Lottie teve forte influência da sua irmã, Edmonia Moon, que foi designada primeiro para ir a Tengchow, China, em 1872. No ano seguinte, Lottie também foi designada e se juntou à sua irmã, tendo servido como missionária no país por aproximadamente 39 anos. Ela ensinou numa escola para meninas e, muitas vezes, realizou viagens para o interior da China a fim de levar as boas novas para mulheres e crianças.
Quando partiu para o outro lado do oceano, Lottie tinha 32 anos. Ela rejeitou uma proposta de casamento e deixou seu emprego, sua casa e sua família para seguir a vontade de Deus. Sua jornada não era normal para uma mulher instruída de uma saudável família sulista, todavia, Deus a governou com a necessidade do povo chinês por um Salvador.
Enquanto esteve lá, Moon foi motivo de medo e rejeição por parte do povo, isso em razão de sua ideia de superioridade racial, típica do Sul. Entretanto, seus preconceitos logo foram esmagados nas mãos do grande Oleiro e remodelados para um serviço mais útil. Com o tempo, ela adotou as vestimentas chinesas, a língua e os costumes, de maneira a não apenas servi-los, mas, também, a se identificar com eles. Eventualmente, muitos aceitaram não somente a ela, como também ao seu Salvador.
Maior contribuição de Lottie Moon
Lottie Moon escrevia inúmeras cartas detalhando a fome da China pela verdade e a luta de tão poucos missionários levando o evangelho aos 472 milhões de chineses em seus dias. Ela também compartilhou a necessidade urgente de mais obreiros para apoiá-los através de oração e doação.
Seu fluxo constante de cartas e artigos apelando por mais voluntários e por apoio financeiro levou as mulheres da Batista do Sul a iniciar uma oferta anual de Natal para missões estrangeiras em 1888 – oferta essa que mais tarde recebeu o nome de Moon – que cresceu de um valor inicial de 3 mil dólares para mais de 82 milhões de dólares em 1993.
Seu impacto na política da diretoria foi extraordinário e incluiu sua defesa para que as mulheres fossem utilizadas como evangelistas missionárias, para que os missionários recém-nomeados se envolvessem no trabalho missionário imediatamente (em vez de esperar para concluir o estudo do idioma) e para estabelecer licenças regulares para todos os missionários.
Certa vez ela escreveu para o Conselho de Missões Estrangeiras: “Por favor, diga aos (novos) missionários que eles estão chegando a uma vida de dificuldades, responsabilidade e abnegação constantes”.
Doença, tribulações e falta de cooperadores ameaçaram o trabalho de Lottie. Mas ela se entregou completamente a Deus, ajudando a estabelecer os alicerces do que se tornaria a moderna igreja chinesa, um dos movimentos cristãos de crescimento mais rápido no mundo.
Lottie Moon morreu aos 72 anos, após crises recorrentes de doenças e depressão causadas pela desnutrição durante uma fome nacional, depois de décadas ministrando ao seu amado povo chinês. Mas seu legado continua vivo. E hoje, quando os donativos não estão crescendo tão rapidamente quanto o número de trabalhadores que Deus está chamando para o campo, seu chamado para doações sacrificiais soa com mais urgência do que nunca.
Em Lottie, vemos alguém que deixou tudo para trás para seguir a Cristo, alguém que sempre se perguntava qual seria a melhor maneira de usar sua vida para servir ao seu Rei. Ela não chegou à China como a missionária perfeita, antes, Deus precisou crescer nela e transformar seu serviço em um serviço mais parecido com o de Cristo. Todavia, ela acabou se tornando um exemplo de sacrifício vivo. Que consideremos a vida de Lottie e tenhamos uma fé como a dela.
Bibliografia
IMB. Who Was Lottie Moon. Disponível em: https://www.imb.org/who-was-lottie-moon/. Acesso em: 16 abr. 2021.
SCHROCK, David. Lottie Moon: A Brief Biography. Disponível em: http://cgbcbelton.org/wp-content/uploads/2014/09/lottie-moon1.pdf. Acesso em: 16 abr. 2021.
THEOLOGY, School Of. Moon, Charlotte (Lottie) Diggs (1840-1912): southern baptist missionary in china. Southern Baptist missionary in China. Disponível em: https://www.bu.edu/missiology/missionary-biography/l-m/moon-charlotte-lottie-diggs-1840-1912/. Acesso em: 16 abr. 2021.