Quando foi a última vez que você sentiu uma grande dor, seja física ou emocional? Quando foi a última ocasião em que você percebeu que estava sendo flagelado pelas corrupções deste mundo? Quando foi a última vez que as dores lancinantes da vida dilaceraram sua pele ou sua mente, ao ponto de seus pulmões se verem incapazes de segurar o ar e expulsá-los mediante um grito que rasga sua garganta? Ou de fazerem seus olhos inundarem com as lágrimas que não mereciam ser derramadas pelas coisas deste século? 

É sobre isso que o texto trata: a dor. Qual é a sua? Qual é a sombra pessoal que encobre você e o faz querer desistir de tudo? Alguma vez o mundo deu um golpe tão poderoso em você que partiu seu coração outrora tão reluzente? Eu passei por isso.

Quando tudo parece desabar ao nosso redor, é muito comum nos questionarmos acerca das razões que fizeram com que tamanho desastre tivesse espaço em nossa vida. Em minha não tão longa experiência, enquanto eu vivia trancado em minha zona de conforto – baseada em uma vida espiritual meramente dominical – tudo parecia funcionar bem. Estagnado e satisfeito com a ausência de uma força externa que provocasse uma mudança em meu interior, vi que Deus resolveu usar um acontecimento na minha vida pessoal para mexer comigo.

Naquela situação, uma dor cortante me atingiu. Todo meu conforto e alegria foram retirados sem que houvesse qualquer explicação plausível. No meu viver rotineiro e decadente, o tapete sob meus pés foi arrancado de maneira bruta, levando-me à queda e, uma vez no chão, eu não encontrava quem pudesse me levantar. Família e amigos não eram capazes de conceber o tamanho da ferida que insistia em crescer dentro de mim e, por mais que eu me esforçasse para fazê-los entender, as minhas palavras se tornavam incompreensíveis.

Alguns lamentavam, mas não havia ninguém que pudesse me resgatar daquele emaranhado angustiante de solidão e lágrimas que lutavam para sair, mas que eram impedidas pelo meu orgulho vão. E enquanto me via soterrado pelos destroços daquilo que algum dia eu tentei construir por conta própria, minha mente martelava em infindáveis acusações contra mim mesmo. A voz em minha cabeça era o meu próprio interior, deixando claro que não havia salvação para mim e que meu caminho, daquele ponto em diante, seria pautado em constantes perdas e tristezas. 

Naquele vazio de quem sofre um golpe fatal, não havia luz. E sem luz, eu era incapaz de enxergar qualquer possibilidade de glória.

Sem rumo, não soube como me comportar ou a quem recorrer. Sendo assim, meu coração deu espaço às infindáveis reclamações e queixas contra Deus: como poderia Ele fazer algo assim a um de Seus filhos? Por que logo Ele, misericordioso como deveria ser, estava me apunhalando pelas costas?

Talvez você se identifique com o que foi exposto acima, pois tenho a certeza que não é uma experiência exclusivamente minha. Todos nós temos de lidar com a dor e somos diferentes nisso. Jesus, por exemplo, foi muito diferente de mim.

Ao recapitular o momento da morte de nosso Senhor, me chama a atenção um pequeno fato: mesmo em um momento de extrema fragilidade e dor, mediante a ausência do Pai (“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”; Mt 27:46), que O deixara ali em meio a palavras de humilhação e de ódio por parte daqueles que não sabiam o que faziam – de modo que, assim, a justiça se cumprisse por meio da expiação –, Jesus só ousou dizer seis frases (Mt 27:46; Lc 23:34, 43, 46; Jo 19:28, 30). Enquanto carregava o doloroso peso de nossos pecados em seus ombros cansados e costas marcadas pela malignidade dos homens, Ele nunca se queixou, mas amou a todos de tal modo que apenas clamava pelo perdão dos que ali estavam e aqueles que ainda viriam a existir, como você e eu.

Tremenda era a dor que o Senhor sentia e em nada se iguala ao que vivemos nos dias de hoje. Com o propósito de nos salvar, Jesus passou por terríveis dores e uma morte de cruz, para que fôssemos justificados por Ele (Fp 2:6-8; Rm 5:8-10). Derramou seu precioso sangue para que eu e você tivéssemos perdão e não fossemos castigados, mas, pelo contrário, dispuséssemos da possibilidade de receber a vida eterna (Jo 3:16; 1Jo 5:11-13). Ele veio como homem e entre nós viveu, de modo a nos conhecer, nos salvar e plenamente compreender nossos hábitos, sentimentos e pensamentos.

Tendo isso em mente, gostaria de retornar às nossas dores. Dores que, muitas vezes, parecem não ter qualquer propósito, até que o Senhor nos recorda de Sua Palavra e a misericórdia que Ele reservou a nós. Lamentações 3:22-23 guarda uma sabedoria da qual necessitamos nos lembrar em nossos momentos de angústia: 

As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã. Grande é a tua fidelidade”.

Mesmo em meio a tribulações, que nos deixam abatidos, machucam nosso coração e tentam nos fazer desistir do galardão que nos é reservado, devemos estar constantemente nos lembrando de que Deus tem o que é melhor para nós e que, em todo o tempo, Ele nos consola. O mesmo capítulo ainda continua a confortar: 

Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige, nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (v. 32-33).

Entendo o quanto é difícil não deixar ser consumido pela dor. O quão complicado pode ser manter o ânimo em servir ao Senhor e estar em constante comunhão com Ele quando os pilares que sustentam nossa vida parecem ruir. Em minha experiência, foi apenas ao alcançar o fundo do poço de minha existência que eu percebi que não estava só e que havia um caminho de felicidade e vida a trilhar. Percebi que Deus sempre esteve disposto a estender Sua mão para me tirar de um ambiente de trevas e desespero, bastando apenas que eu me voltasse a Ele com um coração puro e íntegro.

Mediante a essa realidade e às palavras que nos têm sido dadas como alimento diariamente, concluí algo que deveria ser óbvio, mas que esquecemos quando os pensamentos vazios surgem: toda a nossa vida deve ser entregue nas mãos do Senhor. Esse é o mínimo que podemos fazer, visto o sacrifício angustiante ao qual se entregou apenas para nos salvar, sendo cruelmente pregado naquela cruz e enquanto de Seu corpo vertiam sangue e água.

É natural nos entristecermos com algumas situações do dia a dia, além de ser possível que essa dor cresça. Muitas vezes, é extremamente difícil lutar contra ela e o desânimo que a acompanha, mas espero que possamos sempre nos recordar das promessas de Deus para a nossa vida. Romanos 8:18 ressalta: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós”. A promessa de Cristo quanto a nossa santificação e glorificação são certas e, por este motivo, devemos estar sempre dispostos a invocá-Lo e louvá-Lo independentemente do mal que o presente século possa tentar acometer contra nossa vida. É através deste intenso fogo das provações que somos aperfeiçoados sobremaneira, para que tenhamos a devida experiência e, assim, a Palavra de Deus possa ser nossa base.  .

Portanto, “também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5:3-5).

Sempre que as dores e aflições se lançarem contra você, não se queixe contra o Senhor e não permita que os pensamentos maus o consumam. Lembre-se que temos em Deus o nosso refúgio e consolo. Uma vez com Ele, em constante comunhão e oração, além de junto do amor dos irmãos, as lágrimas que um dia foram derrubadas serão substituídas por um brilho de júbilo nos olhos, ao mesmo tempo que os gritos e gemidos se tornarão cânticos ao Rei dos reis.