O livro de Eclesiastes está recheado de ensinamentos, reflexões e lições a respeito da vida humana. Um dos temas principais do livro, que permeia grande parte das reflexões e está implícito em todas as lições do Pregador, é a humildade. A cada novo ensinamento, o autor nos leva a olhar para a pequenez do homem diante da vida e, principalmente, diante do Criador. Contemplar a grandeza de Deus e de Sua obra diante de nós deve nos levar a uma postura humilde, de reverência ao nosso Pai, Criador e Senhor de todas as coisas (Sl 24:1).

Existe um tempo predeterminado para todas as coisas

“Há um momento certo para tudo, um tempo para cada atividade debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher. Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de construir. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de se entristecer, e tempo de dançar.”

Eclesiastes 3:1-4 (NVT)

Existe um momento escolhido por Deus para cada atividade na Terra e nós somos incapazes de alterar a ordem temporal predeterminada por Deus. Seja com relação à natureza ou à nossa vida pessoal, nunca poderemos interferir na ordem estabelecida por Ele. Não podemos transformar o “tempo de plantar” em “tempo de colher”. As estações do ano, criadas por Deus, definem esses tempos, e se quisermos um dia colher os frutos de nosso trabalho, precisamos nos adequar a elas. Da mesma maneira, somos incapazes de transformar o “tempo de chorar” em “tempo de rir”. Isso deve nos levar a uma postura de inteira humildade diante do Pai. Por mais que nos esforcemos e lutemos contra a vontade Dele, nunca conseguiremos acrescentar, retirar ou alterar o que Deus faz (Ec 3:14).

E por que deveríamos tentar lutar contra a vontade Dele? Não cremos que ela é boa, perfeita e agradável (Rm 12:2)? Se Deus está no controle de todas as coisas, o “tempo de se entristecer” foi dado por Ele, assim como o “tempo de dançar”. Entender o motivo pelo qual passamos por situações adversas não é fácil, mas devemos perceber que elas não são obra do acaso ou de nosso infortúnio. Tudo faz parte do plano eterno de Deus, que é muito maior que nós e excede os limites de nossa compreensão. Não somos capazes de entender Sua vontade e sequer de garantir nossa alegria. Pelo contrário, o Senhor é quem transforma nosso choro em dança (Sl 30:11). Assim, em cada momento de nossas vidas, precisamos pedir a Deus discernimento para reconhecer em qual “tempo” estamos e buscar aprender o máximo com a situação. Chorar no tempo de chorar, rir no tempo de rir e, como Paulo, aprender a viver em todas essas situações:

“Sei viver na necessidade e também na fartura. Aprendi o segredo de viver em qualquer situação, de estômago cheio ou vazio, com pouco ou muito. Posso todas as coisas por meio de Cristo, que me dá forças.”

Filipenses 4:12-13 (NVT)

Eclesiastes: o tempo de rir é melhor que o tempo de chorar?

“É melhor ir a funerais que ir a festas; afinal, todos morrem, e é bom que os vivos se lembrem disso. A tristeza é melhor que o riso, pois aperfeiçoa o coração. O sábio pensa na morte com frequência, enquanto o tolo só pensa em se divertir. É melhor ouvir a repreensão do sábio que o elogio do tolo.”

Eclesiastes 7:2-5 (NVT)

“É melhor ir a funerais que ir a festas”(v. 2). A afirmação causa espanto porque estamos muito acostumados a ver a alegria como o fim de todas as coisas. Felicidade e satisfação são o objetivo maior da vida de muitas pessoas (se manifestando no desejo por poder, dinheiro, reconhecimento, …). Vivemos uma idolatria do prazer pessoal. O Pregador, por sua vez, critica a supervalorização do “tempo de rir” em detrimento do ”tempo de chorar”. Obviamente ninguém se sente melhor em um funeral que em uma festa. Entretanto, um funeral gera crescimento. Ele nos leva a refletir a respeito de nossa finitude. Faz-nos lembrar que a morte é o fim de todos nós, mostra-nos nossas limitações e, novamente, leva-nos a uma postura humilde, reconhecendo nossa pequenez diante do Deus eterno. O autor nos mostra nesse trecho a importância de gastar nossos pensamentos naquilo que traga amadurecimento. A tristeza não é melhor que o riso por nos dar mais prazer, mas por aperfeiçoar nosso coração.

Imagine a vida como um arquipélago formado por ilhas de alegria separadas por águas de tristeza. Quando você tiver de deixar uma ilha de alegria para alcançar a próxima, é muito possível que não hajam pontes e você deva passar pelo mar de tristeza. Você terá de remar para chegar à próxima ilha. É muito bom estar em terra firme, mas também é importante aprender a velejar. É melhor sofrer por breve tempo no mar e se aperfeiçoar, tornar-se uma pessoa melhor, que viver uma vida de divertimentos, sempre na ilha, e permanecer tolo, imaturo. Ao chegar na ilha, você se sentirá aliviado, mas lembre-se de quem permitiu que você chegasse lá. Lembre-se de quem acalmou as tempestades e te ajudou a sair daquele mar agitado. Lembre-se de que todo o arquipélago foi feito por Deus. Ilhas e mar.

Qual o propósito disso tudo?

“Assim como é impossível entender o caminho do vento ou o mistério do crescimento do bebê no ventre da mãe, também é impossível entender as obras de Deus, que faz todas as coisas.”

Eclesiastes 11:5 (NVT)

Como dito anteriormente, devemos pedir a Deus sabedoria para discernir o tempo em que estamos. Entretanto, apesar de entender em qual momento de nossa vida estamos, é impossível que compreendamos o propósito de Deus com cada situação. No capítulo 11, verso 5 do livro de Eclesiastes, o “caminho do vento” é comparado à obra de Deus. Não podemos saber exatamente de onde vem nem para onde vai o vento, mas sentimos a ventania passar por nós. Quando estamos no “tempo de chorar”, talvez seja impossível saber o que causou esse tempo (de onde vem o vento) ou qual o objetivo de Deus ao permitir tal situação (para onde vai o vento). O mesmo vale para os tempos de rir, de plantar e de colher. Essa falta de compreensão pode ser angustiante, mas ela deve nos levar a uma postura humilde diante de Deus. Por mais que não entendamos, devemos confiar em nosso Pai. Ele tem um propósito para cada situação, e todas elas contribuem para o nosso bem:

“E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. Pois Deus conheceu de antemão os seus e os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primeiro entre muitos irmãos.”

Romanos 8:28,29 (NVT)

Nossa compreensão é extremamente limitada, por isso nos rendemos e entregamos nossas vidas nas mãos do Pai, na confiança de que Ele é bom, e de que sempre nos faz o bem. A vontade de Deus é a grande motivadora de tudo que acontece em nossas vidas. Diferente do que palestras (e pregações) motivacionais nos dizem, nosso futuro não está em nossas mãos. Graças a Deus por isso! Não somos merecedores de nossa prosperidade nem culpados pelos tempos difíceis, pois ambos vêm de Deus:

“Aceite o modo como Deus faz as coisas; afinal, quem é capaz de endireitar o que ele fez torto? Desfrute a prosperidade enquanto pode, mas, quando chegarem os tempos difíceis, reconheça que ambos vêm de Deus; lembre-se de que nada é garantido nesta vida.”

Eclesiastes 7:13,14 (NVT)

Eclesiastes: precisamos uns dos outros

“Observei outra coisa que não faz sentido debaixo do sol. É o caso do homem que vive completamente sozinho, sem filho nem irmão, mas que ainda assim se esforça para obter toda riqueza que puder. A certa altura, porém, ele se pergunta: “Para quem trabalho? Por que deixo de aproveitar tantos prazeres?”. Nada faz sentido, e é tudo angustiante.

É melhor serem dois que um, pois um ajuda o outro a alcançar o sucesso. Se um cair, o outro o ajuda a levantar-se. Mas quem cai sem ter quem o ajude está em sérios apuros. Da mesma forma, duas pessoas que se deitam juntas aquecem uma à outra. Mas como fazer para se aquecer sozinho? Sozinha, a pessoa corre o risco de ser atacada e vencida, mas duas pessoas juntas podem se defender melhor. Se houver três, melhor ainda, pois uma corda trançada com três fios não arrebenta facilmente.”

Eclesiastes 4:7-12 (NVT)

Por fim, o livro de Eclesiastes nos dá mais uma lição de humildade. Devemos ser humildes para reconhecer que precisamos uns dos outros. Precisamos de nossos amigos e de nossa família. São eles quem nos ajudam a alcançar nossas metas, protegem-nos e lutam nossas lutas conosco. Também são eles que dão sentido a muito do que fazemos na terra. Trabalhamos para o nosso sustento, mas amamos ter conosco amigos para desfrutar dos frutos do nosso trabalho. Seja para compartilhar uma viagem, um passeio ou mesmo um almoço rápido, nossos amigos são essenciais. Eles também são usados por Deus para nos ensinar, e devemos ser humildes para aprendermos e sermos repreendidos por nossos amigos, pois “é melhor ouvir a repreensão do sábio que o elogio do tolo.” (Ec 7:5).

Espero que as reflexões apresentadas nos tornem pessoas mais humildes diante de Deus e dos homens. Que reconheçamos nossa pequenez diante do Pai e dependência Dele e das pessoas. Que compreendamos que não somos senhores de nossas vidas, mas temos um Deus, que chamamos de Pai, o Todo poderoso, que nos ama e é o Senhor, não só de nossas vidas, como de todo o universo.

Textos da série

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