Temos visto que a mensagem de Eclesiastes mantém-se bastante atual e muito aplicável ao nosso dia a dia. Isso não é tão surpreendente quando consideramos que o livro fala sobre o coração humano, que é, por natureza, carente, e procura suprir suas necessidades em diversos lugares. Isso não mudou. Desde os tempos antigos, estamos sempre correndo atrás de algo. Lucro, prazer, poder e sabedoria desta terra estão entre as principais dessas buscas, as quais Eclesiastes aborda diante da luz do temor a Deus.
Vaidade X Eternidade
É importante lembrar do contexto do livro: escrito antes da vinda de Cristo, ele não fala com clareza sobre a eternidade. Fala muito, sim, sobre vaidade, e sempre retoma este tópico. Comenta sobre a brevidade da vida e o vazio das coisas que costumamos buscar, nunca nos sentindo completos com elas.
Mas, graças a Deus! A revelação bíblica é gradual e somos muito beneficiados ao considerar o Antigo Testamento à luz do Novo. É assim que devemos entender cada trecho da Bíblia, diante da grande história que ela conta. E essa grande história é sobre Cristo! Tudo ganha sentido ao ser visto como parte da narrativa que chega à vinda Dele, sua morte, ressurreição, e, no fim de todas as coisas, a humanidade reconciliada vivendo com Deus e a glória Dele enchendo o universo!
Os prazeres do presente e a eternidade
Como comentamos em um texto anterior da série, o Pregador de Eclesiastes havia experimentado tudo dos melhores prazeres, mas ainda não se sentia satisfeito. Nessas experiências, ele reconhece até que se entregou à “insensatez”, ou “loucura” (Ec 2:3).
Muitos hoje possuem a busca por prazer como seu propósito de vida. A busca por boas sensações é o que os move, sejam elas físicas, ou emocionais. Alguns são moderados. Outros, mais abertamente, se entregam a insensatez em seus excessos. Há muito tempo Paulo alertou que isso aumentaria. Nos últimos tempos, os homens não teriam autocontrole e seriam “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2 Tm 3:3-4).
Somente o Senhor pode ser nossa alegria completa, pois para Ele é que fomos feitos. Outro prazer não pode ocupar seu lugar. Jesus nos chama a atenção para sermos vigilantes, não nos deixando entorpecer por prazeres desta terra, pois eles podem nos envolver como uma armadilha (Lc 21:34,35).
Eclesiastes: as riquezas desta vida e a eternidade
Neste texto também vimos que Eclesiastes fala que é bom desfrutar dos recursos materiais que temos recebido (Ec 5:18-19), reconhecendo-os como vindo das mãos de Deus e sendo gratos a Ele. Mas Eclesiastes também condena a ganância e o amor ao dinheiro:
“Quem ama o dinheiro nunca terá o suficiente. Quem ama a riqueza nunca se satisfará com o que ganha” (Ec 5:10 – NVT).
Em 2 Timóteo 3, Paulo também havia alertado que nos últimos tempos “as pessoas só amarão a si mesmas e ao dinheiro” (v. 2). Ele também disse que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” e que, pela cobiça, muitos se desviaram da fé e “se atormentaram com muitas dores” (1 Tm 6:10).
Em contraste, Jesus ensinou que as riquezas desta vida são passageiras, e que devemos ajuntar tesouros no céu, “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. (Mt 6:19-21). Paulo pôde dizer que tinha aprendido a viver contente em toda situação, fosse em fartura ou escassez (Fp 4:10, 11). Seu tesouro era Cristo, pelo qual poderia perder todas as outras coisas (Fp 3:8). Qual é o nosso?
O poder e glória desta vida e a eternidade
Poder e reconhecimento também seduzem o ser humano. As posições, títulos, a fama, as glórias desta terra. O Pregador também experimentou esses itens. Dedicou-se a projetos grandiosos, teve alta posição e foi reconhecido como alguém muito importante (Ec 2:4-5, 7-8). Mas isso também não preencheu o vazio que sentia.
De uma forma sutil, também podemos ser tentados nessas coisas. Por exemplo, se vivemos em dependência da aprovação de outras pessoas, para nos sentir amados, ou se colocamos nossa esperança em nossas próprias realizações, esperando encontrar nelas nossa identidade.
Temos a maior aprovação que poderíamos sonhar e a única que realmente necessitamos, se estamos em Cristo, em quem somos aceitos pelo Pai. E a nossa salvação e descanso não estão nas coisas que fazemos, mas no que Cristo fez por nós e recebemos gratuitamente. Por isso, devemos gloriar-nos na cruz de Cristo (Gl 6:14).
É Deus quem nos salva e diz quem somos. E um dia, isso será manifestado de maneira gloriosa para todo o universo! Seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3:2), glorificados com Ele (Rm 8:17), participantes de Sua glória! Será algo muito maior e mais belo do que qualquer reconhecimento desta vida. Como Paulo diz, será um eterno peso de glória, acima de qualquer comparação (2 Co 4:17). Nada que possamos conquistar, mas tudo concedido por Deus. Glória corretamente direcionada: para Deus, e não para nós.
Por isso, precisamos viver como Cristo viveu aqui. Em humildade e serviço, não buscando nossos próprios interesses, de maneira egoísta. Somos instruídos:
“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1 Pe 5:6).
Eclesiastes: o desfrute das coisas desta terra e a eternidade
Por fim, um dos últimos conselhos do livro de Eclesiastes:
“Jovem, alegre-se em sua juventude! Aproveite cada momento. Faça tudo que desejar; não perca nada! Lembre-se, porém, que Deus lhe pedirá contas de tudo que fizer” (Ec 11:9).
Como vimos no primeiro texto, Eclesiastes nos ensina a desfrutar com sabedoria das coisas que Deus nos dá nesta vida. Com gratidão e temor, de maneira a honrá-lo. Podemos nos alegrar nelas, mas precisamos nos lembrar: Deus pedirá contas do que fizermos.
Em 1 Coríntios 7, encontramos uma instrução relacionada: o tempo é curto, por isso, os que usam deste mundo devem ser como se não usassem, porque a aparência dele passa (vs 29-31). Devemos utilizar as coisas desta vida, mas de maneira que elas não tenham nosso coração.
Essas coisas passarão e um dia nos encontraremos com o Senhor e prestaremos contas a Ele. Por isso, Paulo lembra para atentarmos para as coisas que não vemos, não para as temporais (2 Co 4:18). A eternidade tem a prioridade!
Esperança e eternidade
Paulo nos consola com esse fato! Ele segue dizendo:
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial” (2 Co 5:1,2).
Eclesiastes questiona o sentido da vida ao considerar a morte. Ainda que alguém fosse sábio, esse seria seu destino. Então de que lhe aproveitaria a sabedoria (Ec 2:16)? O ser humano não teria vantagem nem mesmo sobre os animais, pois, como eles, voltará ao pó (Ec 3:19-20). Hoje, porém, podemos conhecer e nos alegrar nas promessas claras da ressurreição. Cristo abriu o caminho para todos os que creem (Rm 6:8,9).
Na promessa da vida eterna encontramos esperança para exultar e força para perseverar em meio a sofrimentos. Aqui vemos que nossa alma anseia por sermos revestidos do alto, como o anseio pela eternidade no coração do homem, mencionado em Eclesiastes 3:11. Por causa da obra de Cristo, seremos ressuscitados, a morte já não será mais o fim:
“E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (1 Co 15:53-55).
Eclesiastes: do vazio à completude e o anúncio do evangelho
Eclesiastes mostra que as mais bem sucedidas buscas humanas, sem Deus, resultam em vaidade e que só o temor a Ele pode dar sentido a nossas vidas. Cristo veio como a resposta de Deus para o homem. Ele é aquele que nosso coração deseja. A completude para preencher nosso vazio, a ressurreição e a vida (Jo 11:25).
O mundo passará, Deus será nossa porção para sempre. Conosco, seus redimidos, Ele reinará eternamente e o adoraremos. Em sua presença nos alegraremos e não haverá mais morte, nem choro, nem dor (Ap 21:3,4).
Diante desses pensamentos, vivamos com sabedoria, não buscando em outros lugares o que só temos no Senhor. E, a tantos que não o conhecem e vivem no vazio comentado por Eclesiastes, apresentemos Cristo. Movidos pela compaixão do Senhor, anunciemos às pessoas: somente em Jesus é que poderão encontrar as respostas para seus anseios e serem completos.
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