Mais um ano chega ao fim e o momento é propício a reflexões. Em nossas retrospectivas, podemos encontrar tanto motivos de lamento quanto de alegria. Há aprendizado sobre o passado, motivos de gratidão. E há,  ainda, pensamentos sobre o futuro. 

Os calendários e celebrações nos lembram que a vida segue cativa ao mover do tempo. E isso pode ser bem desconfortável. Somos confrontados pela passagem dele. Pois que uso temos feito do tempo que nos é dado? Devemos questionar a validade de nossos anseios. Isto é, em que temos posto nossos corações? O que realmente temos buscado? Qual o proveito daquilo que corremos para obter? 

De fato, somos pequenos e frágeis, mas o tempo nos é concedido e, mais que isso, oportunidades diversas para ouvir, crer, amar a Deus e depender Dele. Diante da insuficiência de nossos esforços e da brevidade desta vida, é bom tornar os olhos para Aquele que dá sentido a ela: Deus – de quem devemos, com gratidão, reconhecer o cuidado em nossos caminhos. Aquele que não está preso ao tempo e em quem devemos pôr nossa esperança! Pois o tempo se move indiferente, a vida está em constante mudança, mas Cristo permanecerá. E, um dia, Seus remidos estarão com Ele em Seu reino eterno! 

O que faremos na eternidade

No início da minha vida cristã, costumava perguntar a mim mesmo o que faríamos nesse reino. Não é difícil encontrar a resposta na Palavra: estaremos com Ele para sempre, dando-Lhe adoração. Nós iremos contemplá-Lo e servi-Lo, seremos Seu povo; e Ele, nosso Deus (Ap 21:2,3; 22:3,4). Isso é mais que suficiente. 

Alguém que tem, por exemplo, o entretenimento como o maior prazer nesta vida, não pode entender isso. Mas quem já encontra na adoração de Cristo seu maior deleite, aqui percebe a riqueza do que está reservado para a eternidade com Cristo e anseia por ela. E não poderia ser diferente, pois fomos criados para adorar a Deus, para servi-Lo, para ter comunhão com Ele e glorificá-Lo (Ef 1:12; Is 43:7). Dentro de cada ser humano existe essa necessidade, ainda que este não entenda, ou talvez tente satisfazê-la com outras coisas. O que é um grande engano! Só em Cristo encontramos o todo-suficiente, Aquele que pode preencher nossas carências. Por isso, adorá-Lo é nossa melhor atitude. E como isso nos faz bem! Como disse o Salmista, “aos retos fica bem louvá-Lo” (Sl 33:1). 

Deus ordena que o exaltemos

Assim me lembro de um outro questionamento que tinha no início da fé: não seria Deus egoísta ao pedir louvor, serviço, tantas coisas para Si mesmo, sem querer dividir sua glória com ninguém (Is 42:8)? Certamente que não, como Jonathan Edwards explicou:

 

“Ao menos, grande parte da retidão moral de Deus, pela qual ele é disposto a tudo o que é apropriado, adequado e amável em si mesmo, consiste no fato de Ele ter a mais elevada consideração por aquilo que é em si mesmo melhor e mais elevado (…) E, portanto, ela deve consistir principalmente em dar a devida consideração àquele Ser ao qual mais é devida; pois Deus é infinitamente o mais digno de consideração. A dignidade de outros é como nada diante da sua, de modo que a Ele pertence toda a consideração possível.”

(Jonathan Edwards – O fim para o qual Deus criou o mundo).

 

Como Deus ama o que é bom, e como apenas Ele é perfeitamente bom, é totalmente aceitável que busque exaltação de Seu próprio nome. E nós temos a extrema honra de fazer parte disso! Ele deseja ser glorificado em nós, isto é, que manifestemos sua grandeza por meio de nossas vidas. Se há uma determinação pura e excelente para se buscar nesse momento de reflexão sobre o que passou e o que virá, é esta: buscar toda a glória para Cristo!

Toda Glória Seja Para Cristo

Há uma canção tradicional escocesa chamada Auld Lang Syne. É uma música típica de comemorações de ano novo em diversos países. Basicamente, fala sobre guardar boas lembranças e celebra a amizade. O Kings Kaleidoscope escreveu uma nova letra para a antiga melodia folk, resultando na nova canção, All Glory Be To Christ (Toda Glória Seja Para Cristo), da qual adicionei um vídeo no final deste texto. Gosto muito dessa música, pois possui uma letra bastante bíblica junto a uma melodia muito apropriada para se cantar em grupo. Mas não para por aí. Creio que a nova versão ainda é uma música bastante propícia às celebrações de ano novo. Na verdade, mais que a original! Explico com trechos traduzidos da letra a seguir:

 

Não deve nenhum de nossos esforços permanecer

Nenhum legado sobreviver

Se o Senhor não edificar a casa

Em vão seus trabalhadores batalham

 

Para você que gloria-se nos ganhos de amanhã

Diga-me “o que é a sua vida? “

Uma névoa que esvanece ao amanhecer

Toda glória seja para Cristo!

 

As duas primeiras estrofes nos lembram sobre a brevidade de nossa vida e nossa pequenez no universo. O início é inspirado no Salmo 27 e logo nos traz a mensagem de que não podemos depositar confiança em nossos próprios planos e esforços. Podemos olhar para o ano que passou e perceber que nem tudo foi como sonhávamos. Reviravoltas podem ter acontecido, sejam elas alegres, sejam tristes. Elas nos mostram que não estamos no controle e que nossa esperança deve estar em nosso Deus soberano. O mundo passa, mas a glória do Senhor permanecerá. Lembremo-nos disso ao refletir e agradecer por Seu cuidado em tudo que passamos e também ao pensar e orar pelo futuro. Diante de circunstâncias passageiras, o refrão traz a mensagem que deve ser constância em nossas vidas:

 

Toda glória seja para Cristo, nosso rei!

Toda glória seja para Cristo!

Seu governo e reino nós cantaremos para sempre

Toda glória seja para Cristo!

 

Ao pensar em realizações, passadas e futuras, qual é a motivação de nosso coração? O modelo de oração ensinado por Jesus, o Pai nosso, deve ecoar dentro de nós. Ela revela, do coração de Deus, um objetivo submisso (à vontade de Deus), um anseio (pela vinda do reino) e uma confiança grata (Cristo nos dá o pão de cada dia). A canção segue:

 

Sua vontade seja feita

Que venha o seu reino

Na terra como no céu

Ele é o nosso próprio pão diário

Louvem-no, o Senhor de amor

 

E, adiante, lembranças de textos bíblicos que mostram que só em Cristo temos satisfação real:

 

Que a água viva satisfaça

O que tem sede, sem preço

Nós ainda tomaremos um copo de bondade

Toda glória seja para Cristo!

 

Essa é a única estrofe que contém um verso da letra original de Auld Lang Syne: “we’ll take a cup of kindness yet” (nós ainda tomaremos um copo de bondade). E ela cabe muito bem aí. Somente Cristo pode dar real significado a essa frase, pois só Ele é capaz de satisfazer a sede interior que há em todo ser humano. Um coração grato ao relembrar o cuidado de Deus em mais um ano pode certamente dizer: 

 

“Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor” (Salmos 116:12,13).

 

As últimas estrofes ecoam textos bíblicos sobre o fim de todas as coisas. Como faz bem lembrar disso. E como é necessário! Devemos sempre levar essas verdades em nosso coração, nos enchendo, assim, de esperança:

 

Quando, no Dia, o grande Eu Sou

O fiel e verdadeiro

O Cordeiro que foi pelos pecadores ferido

Está fazendo novas todas as coisas

 

Eis nosso Deus, viverá conosco

E será nossa luz constante

E nós seremos para sempre seu povo

Toda glória seja para Cristo!

 

E isso nos leva de volta ao início do texto. O fim de todo o anseio. O fim do próprio tempo. O propósito divino cumprido. Nestes momentos de reflexão, que Deus nos dê coração grato pelo que passou. Que nos dê sabedoria para fazer os planos necessários para adiante. Mas que nossa esperança esteja apenas Naquele de quem nos vêm essas coisas. Aquele que permanecerá. Celebramos Suas obras. Celebramos quem Ele é! E o faremos para sempre. Ainda tomaremos um copo de bondade! Toda glória seja para Cristo!

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