“Como é preciosa, ó Deus, a tua misericórdia! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas.” (Salmos 36:7)
Sob as asas de Deus: esta é a única circunstância sob a qual desejo viver. De forma que, nesse lugar, todas as outras situações sejam como a chuva no telhado, onde cada gota apenas ressalta o valor do meu descanso. Na sombra das asas de Deus, minha vida não se trata mais de dias bons ou ruins, de desprezo ou glória humana. No aconchego do cuidado do Pai, minha vida é sobre o que posso doar às pessoas, não sobre o que posso receber.
Em outras palavras, a única perspectiva através da qual desejo enxergar todas as situações é a do amor do Criador por mim. Quando enxergo a vida a partir de qualquer outra perspectiva, algo falta… E quão injusto será colocar alguém na posição de atender necessidades que somente o Criador pode sanar plenamente? Injusto com as pessoas, quanto à minha carência egoísta de aceitação, e também injusto comigo mesmo, quando me desespero ao cobrar de mim a construção de um lugar de descanso que só encontro Nele. Ele mesmo foi quem colocou a eternidade em meu coração, e nada além de Sua vida eterna poderá me preencher (Ec 3:11; Jo 3:15).
Ao refletir sobre o amor de Cristo, percebo que quando digo saber que sou amado, mas não experimento o poder do que sei, então eu ainda tenho muito que aprender. É necessário saber que Ele me ama e entender esse amor de forma que isso tenha impacto diário e constante em minha vida, mas principalmente na vida das pessoas ao meu redor. A palavra da verdade do evangelho me concede uma esperança reservada nos céus, essa esperança produz frutos: fé e amor por todas as pessoas. Porém, esses frutos não aparecem simplesmente por ouvir sobre o amor de Deus, mas sim ao ouvir e entender a graça de Deus na verdade (Cl 1:4-6 ARA). Como anseio compreender mais essa graça! Fico maravilhado ao perceber que, na medida em que entendo esse amor, conheço a Deus, e na medida em que O conheço, O expresso. Porque nossa dificuldade em amar está intimamente ligada à nossa dificuldade de saber, entender e experimentar o quanto somos amados incondicionalmente pelo Pai.
Portanto, preciso enxergar o contraste entre o frescor da sombra de suas asas e o calor ardente do sol na terra; do contrário, serei um cego tentando descrever a um amigo uma bela paisagem. Preciso enxergar a sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus e Seu amor (Fp 3:8), em contraste com o egoísmo, visto pelo mundo como algo normal. Do contrário, esse egoísmo também será normal para mim e terei me conformado ao mundo (Rm 12:2), insensível à minha própria consciência. Preciso conhecer mais, entender mais, viver mais a realidade do amor Dele por mim, para que eu possa ser tomado de toda a sua plenitude!
Porque do amor Dele por mim ainda não se conhece a largura, o comprimento, a altura, nem a profundidade (Ef 3:18-19). Quando se está pleno, não há mais espaço para ser preenchido. Quando não há mais espaço em mim, nada me falta.
Se nada me falta, minha visão muda – já não enxergarei as pessoas pelo que podem fazer por mim, muito pelo contrário, acordarei todas as manhãs pelo que eu posso fazer por elas (1 Co 10:33). Assim, terei compreendido meu propósito, o que eu significo e o que elas significam para Deus. Já não enxergarei meu dia pelo que ele pode me conceder, o enxergarei como mais uma oportunidade de expressar o amor e a misericórdia do meu Senhor. O valor do meu dia, não estará baseado no quão bom ou ruim ele foi para mim, mas no quão bom ou ruim eu fiz com que o dia de alguém se tornasse.
Dessa forma, quanto mais percebo o tamanho do amor Dele por mim, mais vejo o quanto é um amor imerecido, visto que eu ainda era um pecador quando Deus provou seu amor por mim, enviando seu filho para morrer em meu lugar (Rm 5:8).
“Mas não é justo que você seja tão bom comigo, eu fiz mal a você”.
Quanto mais percebo que sou amado imerecidamente, mais percebo que imerecidamente preciso amar as pessoas. Assim é que poderão conhecer a Deus através de mim; afinal como poderei revelar a graça de Deus se eu continuar dando a elas somente aquilo que merecem receber? E como poderei oferecer amor imerecido se tão pouco conheço o amor imerecido que recebi Dele? Preciso, desesperadamente, conhecer o amor de Cristo, para que as pessoas possam conhecer o amor de Deus, quando receberem de mim algo que não merecem.
Quando isso acontecer, talvez digam: “Mas não é justo que você seja tão bom comigo, eu fiz mal a você”.
Então poderei dizer, sorrindo: “Isso é a graça que eu recebi do Pai; o justo morreu pelo injusto (1Pe 3:18). Eu conheci, vi e toquei o amor Dele. Ele me colocou sob suas asas em um lugar seguro, sarou minhas feridas, me lavou, me vestiu, me deu de comer, me abraçou e me beijou, e tudo que eu fiz a Ele foi injustiça. Que isso possa ser uma experiência real do amor dele por você.”
Amado jovem, antes de tudo, nosso Senhor caminhou na sombra das asas do Pai cheio do Espírito Santo, mas precisou orar muito e fazer a vontade do Pai para se manter em tal realidade e vencer. Perceba que ele orou a noite toda antes de escolher seus discípulos (Lc 6:12-16).
Ofereceu orações e súplicas com forte clamor e lágrimas a quem o podia livrar da morte (Hb 5:7). Veio para servir, não para ser servido (Mt 20:28) porque fazer a vontade do Pai era seu alimento (Jo 4:34) e isso o preenchia.
Assim como o Pai o enviou, ele também nos envia (Jo 20:21). Logo, precisamos perseverar na oração, agradecendo constantemente por tudo que ele já nos fez (Cl 4:2).
Essa é a vontade de Deus para conosco (1Ts 5:18). É atentos a ela que ganharemos mais realidade do que podemos doar. Também em imitação a Cristo, fazer a vontade do Senhor deve ser nosso alimento. Suas palavras são Espírito e são vida (Jo 6:63), quem Dele se alimenta, por Ele viverá (Jo 6:57). Considerando que Ele mesmo nos disse que para permanecermos na realidade de seu amor, precisaríamos guardar seus mandamentos assim como ele guardou os mandamentos do Pai e no amor Dele permaneceu, para que o gozo Dele esteja em nós, e o nosso gozo seja completo. (Jo 15:10-11).
Hoje, também somos chamados a viver debaixo das asas do Pai, cheios de Deus, mas é a prática da verdade que nos trará o desfrute desse gozo de forma que nos complete e, assim, nos capacite a obedecer-lhe com perfeição. Sendo assim, que amemos uns aos outros, assim como Ele nos amou (Jo 15:12).
Assim como Ele se doou, nós também somos chamados a nos doar. Que nossa busca seja ganhar mais realidade do que recebemos do Pai, o verdadeiro amor, a justiça, a paz e a alegria no Espírito Santo (Rm 14:17). Não foi à toa que nosso Senhor Jesus mudou o mundo. Enquanto todo ser humano na face da terra buscava algo para si, ele buscou algo para Deus. E ao fazê-lo, esteve sob as asas do Criador, seguro e com clareza de que a direção que estava tomando era um sucesso! Quer experimentar o mesmo? Coloque-se sob as asas de Deus!
“Ele o cobrirá com as suas penas, e, sob as suas asas, você estará seguro; a sua verdade é proteção e escudo” – Salmos 91:4