Em uma quinta-feira pela manhã, sou convidado a visitar um lugar conhecido como fundo do poço. Entro no carro e sou levado estrada afora, onde termina o asfalto, o mais longe possível da civilização. Chego ao centro de internação de menores infratores de Palmas/TO, junto com uma equipe coordenada pelo Pastor Emanuel que trabalha há seis anos buscando ressocializar menores em situação de risco, promovendo um momento de espiritualidade e levando-os a confessar Jesus Cristo como Senhor (Fl 2:11). Nesta oportunidade, encontro adolescentes que perderam a liberdade.
Ao entrar no corredor dos blocos, onde ficam as celas, percebo um ambiente de escuridão, um lugar hostil e sem paz. Logo surge um som de chaves e cadeados encontrando-se. Então, saem das celas alguns adolescentes, com 15 ou 16 anos de idade, balançando os braços cheios de tatuagem. Comecei a pensar: “o que leva uma pessoa a gostar desse viver sem vida? A Bíblia não brinca, de fato, o salário do pecado é a morte”. Naquele momento aflora no meu coração um forte desejo de pôr em liberdade os cativos (Lc 4:18-19), pois aqueles jovens estavam algemados tanto por fora como por dentro, presos a um passado que os condenava.
Quando converso com os garotos, percebo que a maioria entrou no mundo do crime por conta de companhias erradas (1 Co 15:33), pessoas que amortecem a consciência alheia, privando o outro de fazer suas escolhas. Esses jovens que cumprem medidas socioeducativas por não serem criteriosos em suas amizades, vivem o lado ruim da vida: a prisão. Choco-me com a realidade, não tem como evitar ou escapar, nossas amizades dizem quem somos.
Jovem, o lugar no qual você e eu estamos inseridos influencia nossas escolhas e vontades. Se você está no meio de roubadores pode se tornar um . No entanto, se você está na igreja convivendo com pessoas santas, certamente, é mais fácil que sua atitude seja a de firmemente não se contaminar com as paixões do mundo, bebidas alcoólicas e drogas que estragam sua humanidade. Qual vida você está levando? Aquela de quem está no meio do mal ou a de quem está no meio da igreja? Se você entregou-se para o Senhor, então é uma ovelha em Sua mão. Você é filho de Deus, nascido de Deus e não vive em pecado. Sim, você guarda a vida e os ensinamentos de Deus e, por isso, o maligno não te toca (1 Jo 5 :18).
Já faz seis meses que estou acompanhando esses adolescentes. Aqueles que mostram o sentimento de mudar de vida são chamados para participar de uma escola missionária para futuramente serem exemplo de salvação aos demais. A conversão de um interno – pessoa que cumpre a medida socioeducativa – não é simples, pois a maioria faz parte de uma facção e sair da “gangue” é desonroso. Quem abandona o grupo, perde todo o respeito, privilégio, proteção dos comandantes e o convívio com outros membros do grupo. O crente é posto a prova. Precisa demonstrar uma conduta sem erro ou deslizes. Nessas horas, meu coração arde, pois tenho visto arrependimentos genuínos. Talvez você tenha nascido no meio evangélico ou em uma família bem estruturada e não precisou abandonar muitas atitudes passadas ou se esforçar para deixar poderes e fortunas para seguir o Senhor. Mas, acredite, esses internos abandonaram os pontos de vendas de drogas e a riqueza maligna deste mundo para seguir Cristo. Isso é uma verdadeira prova de amor ao Autor e Consumador da nossa fé. Não podemos deixar esse fato passar sem causar um impacto em nossa vida com Deus, pois estamos diante de um verdadeiro milagre.
Um dos maiores medos daqueles jovens é a morte, por isso é vantajoso pertencer à organização criminosa, porque há proteção dentro da cadeia. Mas, pelo exemplo dos internos que escolhem o Senhor e renunciam a proteção do seu grupo delinquente, Jesus me provou que a melhor escolha, mesmo em face da morte, é ser cativo do Seu amor. Cativo em Cristo me faço livre! Isso me leva a refletir até que ponto sou capaz de abrir mão de meus sonhos, convicções próprias e do meu futuro em favor daquele que conquistou minha liberdade.
Aqueles reclusos experimentam Cristo de forma doce e provam para os homens, principados e potestades de Quem eles são servos, cativos e filhos. Da mesma forma, temos de nos lembrar de quem somos filhos e renovar nossos votos de consagração. Eu faço isso sempre que me lembro dessa situação impactante e quero te convidar para fazer o mesmo. Venha fazer parte do time dos intocáveis! Entregue o controle da sua vida, sonhos e relacionamentos a Deus e você descobrirá que a verdadeira liberdade é se prender a Cristo.
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão’’ (Gl 5:1).