“Como saber se tenho um chamado missionário?”, “Devo largar meus estudos e trabalho para servir em tempo integral?”. Com o objetivo de ajudar a esclarecer dúvidas como essas, realizamos uma série de entrevistas com irmãos que servem ao Senhor em tempo integral, a primeira delas, você pode ler aqui. Somos gratos pela oportunidade de ouvir um pouco sobre suas experiências e ver a bela obra que Deus faz por meio deles.
Na segunda entrevista da série, conversamos com Geraldo Ribeiro. Geraldo tem 43 anos e atualmente mora em Varginha-MG.
EVE: Geraldo, que trabalho você realiza e qual é sua motivação?
– Geraldo: Atualmente, sirvo em tempo integral fazendo colportagem em várias cidades do Sul de Minas. A colportagem é um trabalho feito para a propagação da fé por meio de divulgação de literatura cristã. Trabalho com livros da Editora Árvore da Vida. Atuo na pregação do evangelho do reino, no cuidado e encorajamento de irmãos nas localidades e fortalecimento da comunhão entre irmãos de diferentes grupos cristãos.
Sobre a motivação, somos cientes de nossa condição caída, porém, temos uma visão celestial que nos motiva e nos governa. Essa visão é cheia do amor ao próximo e transforma nossa natureza à medida em que a praticamos. A visão vem de conhecer ao Senhor de maneira que Ele nos mostre como podemos ser úteis ao Seu propósito. Sempre pensamos em ser úteis, mas é a visão que nos faz descobrir como.
E há uma recompensa. Nossa natureza deseja ser vista e reconhecida, mas o Senhor deseja nos dar um outro tipo de reconhecimento, que não é de homens. É a certeza de que o Senhor se agrada com o nosso serviço a Ele. Sempre esperamos recompensa visível para mostrar e ser reconhecidos por isso. Mas essa recompensa, a qual me refiro, não vem do público, vem apenas de um espectador, o Senhor. Isso é para que o orgulho não nos engane e abata.
EVE: Amém! E como é sua história com a colportagem? Como você começou? Em que lugares você serviu?
– Geraldo: Quando eu ainda era solteiro e trabalhava como representante de vendas em Goiânia, fui chamado para servir em Moçambique, na África. Numa comunhão da igreja, de maneira informal, um irmão me falou: “você vai pra África” (no início achei que ele estivesse brincando comigo). Mas sempre tive o desejo de ter experiências servindo ao Senhor e acabei indo para lá, onde servi por seis meses.
Depois desse período, retornei e fui para para Minas Gerais, de onde sou, participar de uma conferência na cidade de Formiga. Logo ao chegar, conheci a Graziela, com quem me casei. Isso mostra que, enquanto servia, o Senhor tinha guardado minha esposa para mim.
Em seguida, já casado, morei na cidade de Divinópolis, onde comecei a servir como colportor. Posteriormente eu e minha esposa servimos ao Senhor nos Estados Unidos durante pouco mais de dez meses, a maior parte do tempo em Atlanta, no estado da Geórgia.
Voltando ao Brasil, migramos para Ipatinga, onde servimos a igreja local por dois anos. Agora moramos em Varginha, Sul de Minas, onde, pela extrema misericórdia, prosseguimos servindo ao Senhor na vida da igreja.
EVE: Muito legal! Você teve a oportunidade de servir em lugares bem diferentes, Moçambique e EUA. Pode nos contar algumas experiências marcantes que você teve nesses lugares?
-Geraldo: Difícil falar de experiências que aconteceram em Moçambique ou nos Estados Unidos, porque foram muitas. Mas o legado que recebi em Moçambique foi: por possuírem pouco recurso, serem realmente pobres, eles são mais desprendidos. Ou seja, quanto mais recursos e estrutura, mais entretidos e distantes ficamos do Senhor. Eles são muito liberados por não terem. Quanto mais temos, mais distantes estamos. Podemos ver a frieza da Europa, por exemplo. Há um grande contraste com a falta, mas principalmente com a alegria dos africanos.
Nos Estados Unidos tivemos uma experiência logo quando chegamos. Partimos de Miami em direção a Orlando e, mais ou menos no meio do caminho, da van em que estávamos começou a sair fumaça e o motor fundiu. Estávamos em duas vans. O guincho nos levou para a cidade mais próxima. Depois de muita procura acabamos indo para um abrigo. Chegamos por volta de meia-noite, éramos cerca de 15 irmãos. O abrigo era dirigido por pastores e uma pastora dizia que sempre teve o sonho de acolher jovens que pregassem o evangelho. Enfim. Mais tarde esse lugar chegou a abrigar um Bookafé [1] e se tornou um centro onde vários jovens do CEAPE [2] foram servir. Os pastores ali se tornaram grandes parceiros e já vieram a várias conferências no Brasil. Ou seja, a quebra de um carro nos abriu uma grande porta. Realmente, em tudo temos que dar graças, pois é da morte que vem a ressurreição.
Geraldo e Graziela nos Estados Unidos
EVE: Glória a Deus! Como foi sua experiência de chamamento? Como você descobriu que era isso que Deus queria para você?
– Geraldo: Lembro que fui muito relutante, principalmente no que diz respeito ao sustento, pois já era casado. Demorei mais de dois anos para aceitar esse chamamento, que a princípio ouvi do irmão Reinaldo, responsável pela obra na região naquela época. Ao longo desses dois anos confirmei que o falar dele vinha do Senhor, pois também o ouvi de Deus.
Em muitas situações o falar do inimigo de Deus vem rápido, como foi com Adão no jardim. Porém é preciso lembrar da experiência de Pedro. Seu passo para fora do barco permitiu que experimentasse algo que ninguém antes havia feito, ele andou sobre as águas. Do mesmo modo, eu também quis sair do meu barco. Larguei meu trabalho e fui para a colportagem.
EVE: Você largou o trabalho e deu um passo de fé atendendo ao chamado do Senhor. Deixar vida profissional e viver na dependência de Deus parece ser algo bastante difícil para muitos. Como é sua experiência em relação a isso?
– Geraldo: Quanto às nossas necessidades, nada nos faltou, nada nos tem faltado. Temos tudo que o Senhor julgou necessário termos. Eu e minha esposa fizemos 8 anos de casados no dia 26 de dezembro de 2017 e estamos bem, graças ao Senhor. Nossa casa sempre é aberta, amamos receber os irmãos, hospedá-los. Tivemos muitas comunhões, conhecemos e convivemos com preciosos servos de Deus. Fomos e seguimos sendo cuidados pelo Senhor em troca de apenas buscarmos o Seu Reino. As demais coisas, sempre as temos.
Às vezes, confesso que eu penso que poderia ser ou ter algo que não tenho, mas vejo minha caminhada de quase sete anos e concluo que nunca teria o que ganhei do Senhor sem esse tempo de serviço integral. Os lugares para onde fomos, o que sentimos, o que vimos, nenhum trabalho secular, por mais competente e persistente que eu pudesse ser nele, jamais alcançaria.
Minha única certeza hoje é que tenho que ficar de joelhos para agradecer ao Senhor por ter direcionado sua doce voz me chamando para servi-Lo em tempo integral. Me sinto um privilegiado.
EVE: Que experiência inspiradora! Relatos como esse levam muitos a se perguntar se também devem servir em tempo integral. Mas como alguém pode saber se de fato tem um chamado para isso?
– Geraldo: Penso que, apesar da experiência do chamado sempre ser bastante pessoal, diferente para cada pessoa, e, por isso, difícil de comentar, ela vem cheia de uma grande paz. No princípio demorei a entender, mas hoje sei que é a paz de ser chamado porque Deus quer cuidar de você mais de perto.
Quando ouvimos o chamado podemos ver que é o Senhor querendo cuidar de nós mais de perto. Atender o chamado é permitir que o Senhor faça a vontade Dele em nossa vida. Creio que muitas das vezes esse é o nosso medo. Por mais que amemos ao Senhor, temos medo da vontade Dele. Se cremos que O ouvimos, às vezes podemos dizer “se possível, passa de mim este cálice, mas, que seja feita a Tua vontade”. Quem é chamado, vai saber. O medo da vontade Dele é que pode impedir de aceitar.
EVE: Que recomendação você daria a alguém que está em dúvida quanto a ter um chamado para servir em tempo integral?
– Geraldo: A dica que tenho para dar é: apenas se deixar levar pelo Senhor. Seja por um período pequeno ou grande, ou até pela vida toda, teremos o privilégio de levar o Senhor para que Ele fale e aja a cada passo dado pela fé. Em Marcos 1:38, Jesus disse: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, para que eu fale também ali”. “Vamos” é plural, mas quem fala é singular. Se vamos, o Senhor pode falar! É preciso um ato de fé para sair da segurança do barco. Sempre teremos que abandonar algo à medida que andamos na direção da vontade do Senhor.
[1] Bookafé: Rede de cafeterias e livrarias cristãs, criada em 2009, no Brasil, com o intuito de proporcionar lugares em que as pessoas pudessem entrar para tomar um café, e receber o evangelho por meio dos colportores ali presentes e de livros cristãos que levam à fé (book – a – fé). Esta se expandiu para outros países no decorrer dos anos e hoje já está presente em quatro continentes.
[2] CEAPE – Centro de Aperfeiçoamento para Propagação do Evangelho: É uma escola para formação de missionários, na qual, os alunos são instruídos na Palavra, no ensino, na evangelização e no apascentamento de pessoas.
Agradecemos ao Geraldo por compartilhar conosco um pouco sobre sua história, trazendo lições tão inspiradoras. Caso você tenha outras dúvidas ou queira contribuir com seu trabalho, envie e-mail para contato@euvosescrevi.com.br e entratremos em contato com ele.
E não perca: no dia 27/04 publicaremos a última entrevista da série.