Deus sempre tem os seus, mesmo em tempos de trevas. Foi assim na era em que a humanidade se corrompeu, quando Deus pôde contar somente com Noé e sua família para cumprir a Sua vontade. Foi assim com vários profetas que viviam em meio a idolatria do povo de Israel e chamavam o povo ao arrependimento. E também foi assim quando o acesso à Palavra de Deus tinha sido restringido a um pequeno grupo de pessoas na igreja e muita corrupção e ensinamentos errados entraram ali. A salvação e o perdão de pecados eram vendidos como mercadorias. Nessa ocasião, Deus levantou pessoas e lhes supriu com coragem e poder em meio às perseguições para tirar muitos das trevas. Sim, Deus sempre tem o seu remanescente, aquelas pessoas que não se conformam com a era, mas que amam a Sua Palavra e conhecem a Sua vontade, cumprindo-a, não importando o preço que tenham que pagar.

Será que estaríamos em condições de ser usados por Deus numa situação como essa? Somos parte do grupo que não se contamina, mas ama a Palavra do Senhor e conhece Sua vontade? Que possamos ser contados entre aqueles que o Senhor reservou para si, aqueles que não se dobraram ao senso comum da época (cf. Rm 11:4). É preciso que estejamos firmes, pois o inimigo está sempre ao nosso redor tentando introduzir seu engano. Não existem muitas congregações por aí em que as coisas mundanas tem entrado? Não existem pessoas querendo misturar outras coisas à Palavra de Deus? Somos chamados a viver em constante vigilância.

O COMEÇO DA REFORMA

O dia 31 de outubro de 1517, 498 anos atrás, é considerado o início da Reforma porque foi o dia em que Lutero divulgou suas 95 teses apontando os ensinamentos distorcidos da Igreja Católica de seu tempo. Dois anos antes, ele havia começado a lecionar sobre a epístola aos Romanos, momento em que fora convencido sobre a justificação pela fé, ao ler o versículo 1:17. Esse acontecimento desencadearia a Reforma.

É interessante que esse evento teria sido profetizado 100 anos antes, como o próprio Lutero reconheceu. Em 1415, John Huss, um dos precursores da Reforma, havia sido condenado a morte pelo que pregava e, antes de ser queimado vivo, disse: “Hoje vocês assarão um ganso magro (Hus significa “ganso” na língua boêmia), mas em cem anos ouvirão um cisne cantar. Não serão capazes de assá-lo e nenhuma armadilha ou rede poderá segurá-lo”. Muitos mártires ainda viriam mais tarde, mas nada pode calar o testemunho.

E a Reforma não acaba ali, não se restringe a uma época. A Reforma é necessidade constante no meio do povo de Deus. No meio de nós que temos memória curta quanto às coisas que Deus nos ensina, que nos permitirmos ser tão influenciados pelo ambiente e pelas pessoas a nossa volta. Nesse sentido também precisamos relembrar muito sobre esse momento histórico.

5 SOLAS

Pode-se dizer que os 5 princípios que foram a base da reforma foram: somente a fé, somente a Escritura, somente Cristo, somente a graça e glória somente a Deus (sola fide, sola scriptura, solus Christus, sola gratia e soli Deo gloria). Você pode imaginar como seria a situação da igreja sem esses princípios? Precisamos valorizar o que temos recebido, o legado deixado por esses irmãos da família da fé, da qual fazemos parte.

Somente pela fé podemos ser salvos, não dependendo de obras. Todos os homens pecaram e nada do que possam fazer pelos seus próprios esforços pode lhes trazer a salvação (Rm 3:23, 28). Podemos ter segurança de que, por crer no evangelho, não estamos mais condenados. Será que vemos o peso que isso tira de nós e louvamos a Deus por isso? Nossa memória falha, muitas vezes nos leva a nos esforçar para agradar a Deus. Contudo, Ele sempre vem nos lembrar: “apenas creia”. É a fé que tem valor para Deus e que produz um viver santo em nós.

Somente a Bíblia é a Palavra de Deus! Homem algum pode ensinar algo que a contradiga. Um alto preço foi pago para que tivéssemos nossas Bíblias tão acessíveis hoje. Você lê a sua com que frequência? Você realmente a conhece? Ela é parte de você? Temos experiência pessoal da Bíblia ou apenas nos baseamos na experiência de outros? Como os crentes de Beréia (At 17:11), conferimos nela o que ouvimos em pregações? Usando as Escrituras, Jesus venceu as tentações do diabo no deserto, conhecendo-as estamos seguros diante do enganador.

Somente Cristo é o mediador entre Deus e os homens! Por Ele é simples ir a Deus. Não é preciso outra pessoa para sermos salvos, ou para contatarmos o Pai. Temos consciência de quão acessível Ele está? Ou temos sido negligentes e preguiçosos para ir a Ele?

Somente pela graça de Deus podemos ser salvos. É pelo que Cristo fez, não vem de nós. Não precisamos viver em insegurança confiando em nossos esforços. Estamos descobrindo diariamente a grandeza da salvação que recebemos e falando dela a outras pessoas? Lembrar que nossa salvação é imerecida também nos faz mais humildes diante de Deus e dos homens.

Glória somente a Deus! Ele tem sido o centro de nossas vidas, de nossas atividades, relacionamentos e aspirações? Aquilo que buscamos nessa terra serve o propósito de glorificá-lo?

Muitos livros de história atuais distorcem o que ocorreu na reforma, falam dela como uma luta entre burgueses e senhores feudais, apresentam a obra de Calvino como uma valorização sócio-econômica de um grupo, a obra de Lutero apenas como um combate à corrupção. Talvez você tenha ouvido essas coisas na escola, mas não foi o que realmente aconteceu. A questão era espiritual, o retorno à Palavra de Deus, o retorno ao próprio Deus. E devemos nos opor contra tudo o que deseja nos afastar Dele. Não nos deixemos enganar, o inimigo é sutil e precisamos estar atentos e firmes na Palavra de Deus. Atentos quanto a nossa vida com Ele, em constante reforma.

Quem não aprende com os erros do passado está fadado a cometer os mesmos erros no presente. — (Martyn Lloyd-Jones)

Fontes: 1, 2, 3.