Esse texto é a terceira e última parte da série “Vestibular: a arte de crer sem que os olhos vejam”. Anteriormente, nós falamos sobre quem somos e como o Senhor cuidou de nós durante os anos de estudo. Se você quiser ter uma ideia mais aprofundada do que estamos falando e o que nos levou a contar nossas experiências, leia os textos anteriores (Parte I, Parte II), mas se preferir continuar a leitura conseguirá compreender como Deus nos acompanhou no dia do vestibular.
Ana:
No terceiro ano eu sempre fui uma das mais tranquilas emocionalmente pois decorria da confiança em minha própria capacidade. No cursinho, entretanto, eu não tinha como me apoiar no meu entendimento por ter visto minha competência falhar no meu primeiro vestibular. Comecei a ter medo do dia da prova e senti que aquilo seria tão difícil que não me bastaria nada, senão chorar. Conforme as provas se aproximavam, passei a intensificar minha busca ao Senhor. A comunhão pessoal e as reuniões de jovens foram dando a força e a confiança que eu precisava, não mais em mim mesma, mas em Deus.
Ainda assim, as primeiras provas foram bem tensas, porém, em todo o momento, eu sentia que mesmo que não estivesse orando eu estava ligada a Cristo. Eu não era só mais uma numa sala de vestibular, mas estava cheia “do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício” (Ex 31:3b). Eu nunca estive sozinha, havia a intercessão da Igreja que me sustentava e pessoas que me amavam fornecendo todo o apoio que eu precisava. Assim, conectada com os céus, poderia enfrentar qualquer prova em paz, porque, mesmo sendo um vaso de barro, eu tinha um tesouro dentro de mim.
“Porém nós que temos esse tesouro espiritual somos como potes de barro para que fique claro que o poder supremo pertence a Deus e não a nós. Muitas vezes ficamos aflitos, mas não somos derrotados. Algumas vezes ficamos em dúvida, mas nunca ficamos desesperados. Temos muitos inimigos, mas nunca nos falta um amigo. Às vezes somos gravemente feridos, mas não somos destruídos.” (2 Co 4: 7-9 NTLH).
Rad:
Dia de vestibular para mim? A cadeira parece pequena, muitas dúvidas surgem e a minha alma vira uma bagunça. Já não sei no que pensar: no choro, na tentativa de segurar as tensões e as diversas situações que surgem um pouco antes e durante a prova… Sabe, após vinte vestibulares prestados aprendi a parar de enganar a mim mesma pensando que eu poderia aguentar essa pressão sozinha. Apenas orar antes da prova –na minha experiência- não era entregar a prova ao controle de Quem realmente sabe de todas as coisas. Unir isso ao chamar pelo nome do Senhor tem sido reconfortante para mim durante as provas. Passei por psicólogos e diversas terapias, mas o que tem me mantido tranquila é conversar com Ele durante a prova. Às vezes, na pausa para o banheiro, orava à Ele entregando o resultado sempre que finalizava cada vestibular. Isso não é um segredo para aprovação (ou reprovação, já que passei por muitas provas), é o meio que uso para confiar em Jesus que está no meu barco, ainda que este pareça naufragar.
A ansiedade pelo resultado parece tomar conta de tudo e nada fica tão divertido ou satisfatório. Um medo misturado com uma angústia inexplicável já me levou a várias noites de pranto. Olhar ao meu redor e ver as vidas estáveis e completas dos outros me levava, muitas vezes, a não refletir a respeito das angústias e dificuldades que os colocaram onde estão. Sei que a mente de um vestibulando está sempre a lembrá-lo que não há como sorrir demais… Ela encerra utopias e joga duras e frias realidades em suas faces. O dia do resultado parece determinar não só o que acontecerá no próximo ano/semestre, mas quem somos. Talvez essa não seja a sua experiência, mas tem sido a minha. Nessa perspectiva, tenho aprendido que tal sensação de incerteza não foi experimentada só por nós. São fases que todos precisam passar. Para muitos, isso não acontece em um vestibular… Talvez em um concurso público, uma prova da ordem dos advogados, em uma entrevista de emprego, etc.
Nós, como seres humanos, precisamos desses momentos de instabilidade. Precisamos desconstruir quem achamos que somos para que vejamos quem realmente somos. Nós, cristãos, temos Aquele que pode nos dizer quem realmente somos. Ele é quem nos mostra que o que fazemos nessa terra não nos diz quem somos, Ele é Quem realmente pode nos ensinar a tirar nossos olhos de nossas “vidinhas” (2Co 4:18). Ainda somos muito presos aos nossos mundinhos e Ele quer nos mostrar que há muito mais que tudo isso!
Quanto aos nossos mais completos planos de vida… Desejo parafrasear Shakespeare -em sua obra, Hamlet,- ao dizer que onde fracassam nossas tramas bem planejadas nos é ensinado que há uma divindade dando uma forma final aos nossos “mais toscos projetos”. Caro leitor, ao tornarmo-nos filhos de Deus, nossas vidas foram inseridas nos planos do Soberano. Temos nossas metas e objetivos, mas o final é dado pelo Autor principal (Pv 16:1-3). Estamos inseridos em Seu plano e nossas vidas devem convergir em Cristo e na edificação de seu corpo (Ef 1). Seja em um tribunal, um hospital, uma certa universidade, uma escola ou qualquer outro ambiente que Deus quer inserir você, Ele vai te colocar onde sabe que será o lugar ideal (Rm 12:2).
Confiar nisso é primordial. Afinal, nós temos muitas ambições, mas somente Ele consegue ver nosso amanhã. A nós, precisamos da esperança. Trabalhar e esperar: trabalhar, se esforçar no que o Criador nos deu hoje, além de esperar o tempo da realização dos desejos Dele para nós. Nessa perspectiva, a dúvida muitas vezes me consumia ao pensar se tenho o direito de fazer meus planos. Mas percebi que por mais que muitos deles tenham sido modificados, fazer meus planos é o que dava espaço para que Ele os mudasse. Estar estagnada esperando por tudo não fazia com que Ele operasse nada em minha vida. Deus nos quer ativos (Dn 11:32), quer unir nossos planos aos Dele e dar-nos esse viver repleto da paz e felicidade tão escassa e almejada por esse mundo sem Deus.
E se os planos Dele forem muito diferentes dos meus? Acha mesmo que Moisés queria ter sido expulso do Egito, ou que José pediu para ser vendido, ou até que Paulo tenha planejado deixar de ser um perseguidor para ser perseguido? A obediência desses homens os transformaram de pessoas medianas a homens excepcionais. Por isso, se esse é o seu caso, não tema. Ainda que nossos olhos humanos não vejam, siga a paz (Cl3:15) que há em seu coração e provavelmente – ainda que passe por muitas tempestades- maravilhas não programadas por você e seus planos humanos acontecerão.
Após tantas palavras, queremos te encorajar a ter um íntimo relacionamento com o seu Deus nesse período. Afinal, ainda que leia e desfrute de diversas experiências, nosso Deus é um tanto gourmet. O que queremos dizer com isso? Sua história não será igual a nossa, muitas coisas se assemelham, mas Cristo quer escrever a sua história de maneira personalizada. Ainda que José, Davi, Moisés e diversos outros personagens na bíblia tenham conseguido governar, suas histórias foram diferentes. Não se compare a outras pessoas, são realidades diferentes, famílias diferentes, personalidades diferentes e não acabam as diferenças por aí. Não há melhor ou pior, há sucesso quando se aproveita o que você tem, debaixo da direção de Quem possui toda a sabedoria para fazer o que é melhor e no tempo que Ele sabe que será mais propício a cada um de nós.
Esperamos que você tenha experimentado mais um pouco sobre “a arte de crer sem que os olhos vejam”. Que seus olhos da fé possam guiar você. Assim, temos a certeza de que o caminho certo será trilhado debaixo do cuidado Daquele que nos ama muito. Deus te abençoe!
“para te humilhar, e para te provar, e, afinal, te fazer bem.” Dt 8:16b.