Famoso por seus milhares de hinos, que nos inspiram até os dias de hoje, Charles Wesley, também foi, ao lado de seu irmão John, um dos líderes do Avivamento da Inglaterra no século XVIII. A seguir compartilhamos um pouco sobre sua história e as lições e encorajamento que ela traz.

Breve história de Charles Wesley

Charles Wesley nasceu em 1707, o décimo oitavo filho de Samuel e Susanna Wesley, e o nono a sobreviver à infância. Os outros nove foram enterrados lado a lado no cemitério da família. Seu pai era um Ministro anglicano e foi estudante ao longo de toda a vida, meticuloso intérprete das Escrituras e das antigas línguas, como hebraico, aramaico, siríaco, árabe, grego e latim. O velho Wesley escreveu History of the Old and New Testaments – História do Antigo e do Novo Testamento, em três volumes de rimas, refletindo capacidades especiais que brilhariam sobre seu filho Charles.

Sua mãe gerenciou uma casa bem organizada, com ênfase no viver espiritual. Havia  também um cuidado com o uso do tempo, regularidade de refeições, manhãs e tardes com devocionais familiares. “A tudo isso [Charles] era acostumado, provavelmente mais do que qualquer outro garoto de oito anos de idade na Inglaterra.” Dos oito até os trinta anos de idade, “ele era tão imerso (…) na vida dos grandes homens do passado”, que acabou assumindo seus hábitos mentais e suas formas de expressão. Depois de uma educação nos clássicos da Abadia de Westminster, onde chegou a ser presidente do corpo discente, seguiu seu irmão John para Oxford em 1726.

No tempo em que os Wesley passaram em Oxford, os padrões da nação tinham sido gravemente reduzidos. “Embriaguez, jogos de azar, roubos e imoralidade eram comuns e o deísmo, crença de que Deus era meramente uma ‘primeira causa’ impessoal, era amplamente aceita.” Embora tivesse sido um pouco influenciado no seu primeiro ano, Charles preservou-se na fé, devido, em grande medida, às orações de, sua mãe. E, devido a isso, acordou de sua letargia. Mas Charles fez mais do que se livrar de sua própria letargia, ele persuadiu três jovens para observar o método de estudo prescrito pelo Estatuto da Universidade. Por isso, foi chamado de Metodista. Pouco depois, o “Clube Santo” começou. Naquele tempo, Charles convenceu George Whitefield, o futuro mensageiro do evangelho na América, a ser um membro. Mas Whitefield e Wesley, uma  dupla evangelística sem precedentes, ainda não conheciam, por eles mesmos, a verdadeira conversão à Cristo.

Em 1735, enquanto o  pai de Charles, Samuel, lutava contra uma doença e estava à beira da morte, profetizou:

 “Seja firme. Com certeza, a fé cristã vai reviver nesse reino. Vocês devem ver, embora eu não”.

De Samuel, dizia-se que ele era muito mais avançado em comparação a seus filhos, tanto no conhecimento evangélico quanto nas realizações espirituais. Ele desfrutava da salvação Cristã, a natureza e método que nem John, nem Charles, naquele tempo, entendiam. 

Naquele mesmo ano, Charles e John foram a uma viagem missionária para a Geórgia. Durante a viagem, uma violenta tempestade, com ondas gigantescas, quebrou a vela principal do barco e penetrou na cabine principal. Grande parte dos passageiros estavam tomados pelo medo, mas enquanto eles gritavam em terror, os morávios [1], que entoavam um hino enquanto a tempestade estava no seu pior momento, calmamente continuaram a cantar e orar ao Senhor. John perguntou a um deles se estava com medo. A resposta foi,  suavemente: 

“Graças a Deus, não.”

“Mas suas mulheres e filhos não estão com medo?” ele retrucou.

 “Não, nossas mulheres e filhos não têm medo de morrer.”

John admitiu –  ele mesmo estava coberto de medo… Não sabia nada a respeito da paz que essas pessoas possuíam. Essa foi sua primeira experiência do cristianismo evangélico , e deixou uma marca que nunca será apagada.

A confiança dos morávios durante a tempestade criou uma certa inquietação dentro dos Wesley, revelando sua profunda necessidade do Príncipe da Paz. 

A viagem missionária acabou em desapontamento. Envergonhado e desencorajado, Charles aprenderia, através de uma dura experiência, o fracasso e a desesperança de suas estritas práticas metodistas: uma combinação letal de piedade, legalismo e disciplinas eclesiásticas severas. Consequentemente, não existia vida ministerial, pois suas palavras não abordavam nada além de obras. Ele era inerte a respeito da maravilhosa e fundamental verdade que estava perto de experimentar: a Justificação pela Fé  

Das obras à Graça: 

Logo após seu retorno à Inglaterra, Charles e John perceberam que existia uma maravilhosa experiência, algo como um novo nascimento. Seu amigo, George Whitefield, tinha recentemente, recebido o Senhor Jesus. Charles o ouviu pregar sobre procurar multidões, dizendo: “Vocês devem nascer de novo!” Logo depois disso, o morávio Peter Bohler compartilhou diariamente com Charles e John que o caminho para a salvação não era através dos melhores e maiores esforços, mas pela fé em Jesus Cristo. Nesse tempo, eles também liam escritos de Martinho Lutero, “que colocaram os dois irmãos diante da porta da fé e posicionaram suas mãos na maçaneta”.

Charles ficou doente e ficou sob os cuidados da família Bray. O Sr. Bray orava e lia as Escrituras com ele. “Deus enviou o Sr. Bray, um pobre e ignorante mecânico, que não conhece nada além de Cristo. Ainda assim, por conhecê-Lo, conhece e discerne todas as coisas.” Para Charles, domingo, dia 21 de Maio de 1738, foi um dia de libertação. O dia em que ele finalmente creu! Dias antes disso ele havia escrito:

´Cansado de lutar com minha dor, 

Desesperançado a confiar na minha natureza acorrentada´. 

Mas como um salvo, ele exclamou:

´como posso eu aspirar todo o céu? 

Um escravo redimido da morte e do pecado, 

Um tição retirado do fogo eterno´.

Uma carga auto imposta sobre si foi retirada, liberando o que ele chamava de “um novo entusiasmo, um novo brilho, uma flutuabilidade espiritual”. Charles se sentia dessa maneira: “eu agora me encontro em paz com Deus e me regozijo na esperança”. John, por sua vez, confiaria em Cristo e seria salvo por Ele três dias depois! 

Graça abundante ao ar livre:

George Whitefield, foi pioneiro na pregação do evangelho ao ar livre para, literalmente, dezenas de milhares de pessoas e conduziu Charles e John Wesley ao mesmo caminho, impulsionando-os para seus ministérios. Sendo barrado dos púlpitos, os Wesley foram usados para alcançar a grande massa inglesa que mais precisava ouvir sobre o Evangelho. “Dezenas de milhares de pecadores esperando” por um  convite do Senhor, reunidos em campos e parques. Charles contava sobre uma força sobrenatural dada a ele em sua pregação e sobre uma alegria espiritual tão intensa que, tanto ele como seus ouvintes, eram tomados em lágrimas e deleite no amor do Senhor

Os Wesley viajavam frequentemente como mensageiros itinerantes, pregando por uma grande parte de toda Inglaterra.

No entanto, a revolução espiritual da Inglaterra do século XVIII foi obtida com grande esforço. Os Wesley sofriam constantes perseguições de multidões enfurecidas que os amaldiçoavam, batiam e apedrejavam vila após vila. Os malfeitores, sem quaisquer restrições das autoridades, atacavam os Wesley com furor e maldade diabólica. No entanto, quando a multidão se encontrou com o amor de Cristo, muitos se arrependeram e se voltaram a Ele. A Revolução rapidamente se espalhou por toda Inglaterra, como Charles havia dito: Toda oposição cairá diante de nós, ou melhor, já caiu; nisto também o Senhor operou. 

O chamado de Charles Wesley para o evangelismo poderia ser visto ao longo de mais de cinquenta anos de pregação. No seu leito de morte, ele compôs as linhas finais de seu último poema para sua esposa, expressando sua eterna esperança em Cristo: 

“Jesus, minha única esperança

Força do meu corpo e do meu coração”

Resumo e lições

Charles Wesley nasceu no gelado dia 18 de Dezembro de 1707, oito semanas prematuro. Seus pais olharam para seu corpo sem vida e pensaram que era natimorto. No entanto, este décimo oitavo filho de Samuel e Susanna Wesley sobreviveu para se tornar um servo fiel de Deus. No dia 8 de Abril de 1749, Wesley se casou com Sarah Gwynne. Eles tiveram oito filhos, dos quais apenas 4 sobreviveram à infância. 

Antes, enquanto estudava em Oxford, Charles e seu irmão John começaram o “Grupo Santo”. Na sua perseguição por uma vida santa, os membros se reuniam regularmente para estudar a Palavra, comunhão, louvores e também para pregar nas prisões. Tudo isso, mesmo que fosse feito para Deus, era feito sem Ele. Mais tarde, ambos irmãos reconheceram que, durante todo seu tempo em Oxford, faltava para eles uma fé pessoal na graça salvadora de Cristo. 

No entanto, depois de uma viagem missionária fracassada para a Geórgia e um tempo de comunhão com os morávios, em 21 de Maio de 1738, Wesley acreditou na eficácia do sangue de Jesus e experimentou a Paz com o Senhor. Por mais de cinco décadas, Wesley foi líder em acender a chama do avivamento que se espalhou ao longo de todo o século XVIII na Inglaterra, pregando, apenas, o evangelho de Jesus Cristo. Convencido de que o que as pessoas cantam é aquilo que elas realmente acreditam, ele, diariamente, se dava a compor milhares de poemas e rimas, permitindo, assim, que gerações de cristãos dessem voz a sua fé e rendessem seus genuínos louvores ao Senhor Jesus Cristo. 

Charles Wesley morreu em um sábado, 29 de Março de 1788. E passou toda sua vida proclamando: Contemplem o Cordeiro!          

Como pode ser?

Charles Wesley permanecia em espanto ao pensar no Todo Poderoso Deus tornando-se como uma frágil criatura, revestindo-se de carne e sangue para ser encarnado num ser humano: o homem Cristo Jesus. E para quê? Para ser crucificado e redimir aos mesmos que o fizeram morrer!

Ele expressa tal espanto em seu famoso hino “And can it be?”. Os primeiros  versos dizem:

“And can it be that I should gain

An int’rest in the Savior’s blood?

Amazing love! How can it be

That Thou, my God, shouldst die for me?”

Ou, em tradução literal:

“E pode ser que eu deva ganhar

Uma porção no sangue do Salvador?”

Maravilhoso amor! Como pode ser

Que Tu, meu Deus, morresses por mim?”

O início do hino fala do assombro de Wesley sobre ele mesmo ter recebido benefício desse ato monumental de sacrifício por amor. Cristo morreu por pecadores, até mesmo pelo rebelde Wesley.

Os pecados incontáveis de cada geração provam quão impossível é que o homem agrade a Deus. Então, Cristo de tudo “se despojou, mas não do amor” e “sangrou por todos nós assim”. Sua vida sem pecado satisfez as exigências do Antigo Testamento e o qualificou para ser o único sacrifício pela redenção do homem. Sua morte removeu toda condenação de sobre nós e sua ressurreição manifesta que Sua oferta foi aceita pelo Pai. Assim, pela graça que nos concedeu, em Cristo revivemos e podemos exclamar, juntamente com Charles Wesley:

Sim, pode ser!

Hino “And can it be”

Abaixo, o hino na versão do Hinário publicado pela Editora Árvore da Vida:

 

1   E como foi que eu ganhei

     Porção no sangue de Jesus?

  Morreu por mim, que O fiz sofrer,

     E persegui até a cruz?

  Grandioso amor! Que ocorreu?

     Por mim morreste, ó meu Deus?

  Grandioso amor! Que ocorreu?

     Por mim morreste, ó meu Deus?

 

2   Mistério: Morre o Imortal!

     Quem vai tal plano perscrutar?

  Tenta em vão o serafim

     O Divinal amor sondar.

  Oh, que mercê! Terra, adorai!

     Cessai, ó anjos, de indagar!

  Oh, que mercê! Terra, adorai!

     Cessai, ó anjos, de indagar!

 

3   O trono de Seu Pai deixou –

     Gratuita graça é sem fim;

  Se despojou, mas não do amor,

     Sangrou por todos nós assim.

  Misericórdia sem igual,

     Ó Deus, achou-me afinal.

  Misericórdia sem igual,

     Ó Deus, achou-me afinal.

 

4   Meu pobre espír’to em prisão

     Pecado e trevas só provou,

  Mas Teu olhar o reviveu,

     Meu calabouço iluminou;

  Liberto foi meu coração,

     Ergui-me e Te segui então.

  Liberto foi meu coração,

     Ergui-me e Te segui então.

 

5   Condenação não temo mais,

     Jesus, e tudo Nele, é meu;

  É meu Cabeça, vivo estou,

     Pois com justiça me envolveu.

  Ao trono ouso me achegar,

     Por Cristo, o prêmio a clamar.

  Ao trono ouso me achegar,

     Por Cristo, o prêmio a clamar.

 

Abaixo um vídeo de uma versão do hino com sua letra (em inglês):

 


Texto traduzido e adaptado por Júlia Magalhães a partir do livro Hidden Pearls: Great Hymns of Faith and Their Inspiring Untold Stories.

[1] Morávios: movimento iniciado no século XVIII, quando um grupo de cristãos protestantes perseguidos se refugiou em terras da atual República Tcheca. Os morávios formaram uma comunidade conhecida por sua profunda vida de oração, serviço e abnegação, além da forte atuação missionária, tendo sido pioneiros em terras distantes desde antes dos movimentos modernos de missões.