A hora aproximava-se. Aquele sol do meio dia queimava minha pele. Peguei meu cântaro e fui a caminho do poço. Sozinha, como sempre, andando pela vila. Eu tentava evitar aquele momento que me lembrava de minha humilhação e desprezo, mas não podia ficar sem água. Eu não era digna de ir na companhia das outras mulheres. Então, o que me restava era caminhar só até aquele maldito poço. No percurso eu pensava: “Quem sabe um dia encontrarei alguém que me ame, um bom marido, ao contrário dos outros que tive, para que eu não precise mais sofrer tanto e tenha a chance de ser feliz”.
Ao me aproximar da fonte, vi um homem sentado. Pensei em voltar para casa, pois tinha medo que me desprezasse. Percebi que era judeu, provavelmente nem falaria comigo, quando disse:
– Dá-me de beber – Ele pediu a mim.
Certamente que ele não sabia quem eu era, pois se soubesse um pouco mais sobre mim, jamais me dirigiria a palavra. Foi o que pensei. Perguntei:
– Como sendo tu, judeu, pede de beber a mim, uma mulher samaritana?
Ao que me respondeu:
– Se você conhecesse o dom de Deus e quem é que está lhe pedindo água para beber, você pediria, e ele lhe daria água viva.
Não entendi a resposta. Quem aquele homem pensava ser? Considerei a possibilidade de que estivesse tentando me enganar com esse discurso de “água viva”, mas o jeito como ele falava era muito diferente. Respondi:
– O senhor não tem balde para tirar água e o poço é fundo. Como vai conseguir essa água viva? Por acaso é maior do que Jacó, nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, assim como os seus filhos e seu gado?
Rapidamente, ele me disse:
– Quem beber desta água voltará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.
Eu não tinha a menor ideia de quem era aquele homem e muito menos do porquê ele falava comigo. Talvez a tal água viva nem fosse verdade, mas se havia uma chance de nunca mais ter de voltar àquele poço, então ele teria minha atenção. Pedi:
– Senhor, quero que me dê dessa água para que eu não tenha mais sede, nem precise vir aqui buscá-la.
Ele me respondeu:
– Vai, chame seu marido e volte aqui.
Ah, não poderia ser tão fácil! Estava indo tudo bem, mas aquele assunto era meio delicado. Se eu dissesse a verdade, ele se afastaria e me olharia como os outros da cidade me olhavam, mas, ao mesmo tempo, não conseguia mentir para ele. Interrompi o silêncio com a melhor resposta que consegui pensar:
– Não tenho marido.
Ainda com o mesmo olhar que fazia queimar meu coração e o mesmo tom sereno, ele disse:
– Você tem razão ao dizer que não tem marido. Porque já teve cinco, e esse que agora tem não é seu marido. O que você disse é verdade.
Se antes meu coração queimava, nesse instante meu corpo todo passou a reagir ao que aquele homem me falava. De alguma forma ele sabia quem eu era e ainda assim continuava falando comigo. Percebi que ele era profeta e que aquela água não era como a do poço, que podia ser carregada num balde. Não havia mais motivo para tentar me esconder, ele sabia tudo sobre mim:
– Agora eu sei que o senhor é um profeta! Nossos pais adoravam neste monte, mas vocês dizem que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
Ao que ele me respondeu:
– Mulher, acredite no que digo: vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém vocês adorarão ao Pai. Vocês adoram o que não conhecem, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade. Porque são esses que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
Apesar de não saber quem era aquele que me falava coisas tão profundas, ao mesmo tempo eu não conseguia parar de pensar que talvez Ele fosse Aquele que nós esperávamos e que, por algum motivo inexplicável, escolheu se revelar para mim, tão indigna:
– Eu sei que virá o Messias, chamado Cristo. Quando ele vier, nos anunciará todas as coisas.
Ele docemente sorriu e me disse:
– Eu sou o Messias, eu que estou falando com você.
De repente, meu coração se aquietou e senti a paz e a alegria que nada, nem ninguém jamais me proporcionou. Eu não precisava mais de um marido para deixar de me sentir tão mal e vazia. Em uma ida ao poço, eu, que andava solitária e envergonhada, conheci o Messias. Descobri que Ele sabia exatamente tudo sobre mim e que ainda assim ousou olhar nos meus olhos e trazer-me boas novas. Não me importava se era naquele monte ou em um poço, havia uma fonte de água viva em mim onde eu poderia adorar em espírito e em verdade.
A alegria indizível me fez esquecer da água e do cântaro. Entrei na cidade e contei aos outros que o Messias estava ali, sabia tudo sobre mim e era o Cristo. As pessoas foram até o poço, onde estava o meu Senhor Jesus e ouviram suas palavras. Ele ainda permaneceu conosco por mais dois dias. Muitos creram e testemunharam a mim:
– Não é mais por causa do que você falou que nós cremos, mas porque nós mesmos ouvimos e sabemos que Ele é verdadeiramente o Salvador do mundo.
Aquela ida ao poço, que tanto me afligia, levou-me a conhecer Cristo. Naquela fonte eu e mais tantos outros conhecemos o Espírito que hoje jorra em nós vida eterna, como uma fonte. O lugar que antes me fazia perceber a solidão, o vazio e a humilhação, hoje me lembra que existe um Salvador que não julgou quem eu era, mesmo sendo tão pecadora. A minha maldição tornou-se em bênção. Ele me amou como ninguém antes e nem depois. Agora, quando vou ao poço é inevitável que meus olhos brilhem e minha boca sorria ao lembrar do meu Jesus.
“E quando a minha história parecia ter chegado ao fim a sua graça me alcançou.” (Jesus, o plano perfeito – Renascer praise)
Conforme João 4: 3-43