Como vimos no texto anterior, trazer a Bíblia de volta a seu lugar de autoridade na igreja foi um dos pilares mais importantes da Reforma Protestante. Agora, veremos um pouco mais sobre como os reformadores contribuíram para que pessoas comuns  tivessem novamente acesso à Bíblia.

Introdução

Traduzir as Escrituras de suas línguas originais para os idiomas locais já era uma prática do povo de Deus desde a antiguidade. Basicamente dois idiomas foram utilizados nos textos originais: hebraico no antigo testamento (AT), com exceção de algumas porções escritas em aramaico, e grego no novo testamento (NT). Muitos séculos antes de Cristo, escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas do povo hebreu mantiveram registros de sua história e relacionamento com Deus. Estes registros possuíam grande significado e importância para eles e, por isso, foram copiados muitas e muitas vezes e transmitidos de geração em geração. Antes mesmo de o Novo Testamento ser escrito, os judeus já haviam traduzido o Antigo Testamento para a língua grega, tradução conhecida como Septuaginta, ou, versão dos setenta. Nos primeiros séculos da igreja cristã a Bíblia inteira foi traduzida para línguas como siríaco, armênio, latim, gótico, etíope, etc.

A Bíblia no contexto da Reforma

Com o fortalecimento da Igreja no ocidente e a adoção do latim como língua oficial da igreja, o processo de tradução ficou esquecido. A Igreja Católica havia se dado por satisfeita com a versão em latim de Jerônimo, a Vulgata, do início do século V, e não estimulava sua tradução para outros idiomas por considerar a Bíblia um livro difícil de ser entendido e não apropriado para ser lido por leigos. Assim, a Igreja Católica passou a usar quase que exclusivamente o texto em latim.

Na época anterior à Reforma Protestante, como o povo comum não falava esta língua nem a entendia, a compreensão do texto bíblico passava totalmente pelas mãos do clero. Os padres liam e interpretavam, à sua maneira, os ensinos sagrados. Nesse período o que o clero  dizia tinha peso igual ou maior ao que a Bíblia dizia.

Lutero, Calvino e outros defendiam as Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática para todos os cristãos. Havia porém um problema. Como o povo poderia ler e interpretar as Escrituras se elas estavam acessíveis quase que somente em latim ou em suas línguas originais? Não é à toa que a igreja de Roma tenha feito um esforço enorme para destruir cópias das Escrituras traduzidas. A Reforma reivindicou  que não pode haver verdadeiro cristianismo sem acesso às Escrituras. Foi então que realizou-se um esforço enorme pela tradução da Bíblia.

Neste período inúmeras traduções surgiram e foram amplamente divulgadas. Lutero traduziu as Escrituras para o alemão. Um primo de Calvino, para o francês. O sínodo de Dort, na Holanda, promoveu a tradução para o holandês e a famosa versão King James foi produzida na Inglaterra. Meio século mais tarde, mas ainda como fruto da Reforma, João Ferreira de Almeida traduziu a Bíblia para a língua Portuguesa. Desde então, centenas de línguas têm recebido traduções da Bíblia.

A Bíblia – o livro mais lido, traduzido e distribuído do mundo -, desde suas origens, já era considerada Sagrada e de grande importância. E, como tal, deveria ser conhecida e compreendida por toda a humanidade. A necessidade de difundir seus ensinamentos através dos tempos e entre os mais variados povos, resultou em inúmeras traduções para os mais variados idiomas e dialetos. Hoje é possível encontrar a Bíblia, completa ou em porções, em mais de 2.000 línguas diferentes.

A Bíblia em português

Em 1648, aos 17 anos, João Ferreira de Almeida iniciou aquela que seria a primeira tradução completa da Bíblia para a língua portuguesa, em Portugal. Finalizou o Novo Testamento em 1676 e lançou-o em 1681. Em 1691 faleceu sem terminar a sua tradução do Antigo Testamento, a qual foi concluída anos mais tarde, em 1748, por outro estudioso da Bíblia. Já no século XX, em 1967, a Sociedade Bíblica do Brasil revisou e adaptou a versão de João Ferreira, lançando a Bíblia Almeida Revista e Atualizada, a qual é a mais difundida e utilizada nos dias atuais.

Foi o acesso à Bíblia traduzida e sua comparação com os ensinos da Igreja Católica que provocaram as maiores perdas de membros da Igreja Oficial da época da Reforma. À medida que as pessoas descobriam o verdadeiro ensino bíblico, recusavam todo e qualquer ensino que o contradissesse. Somente as Escrituras devem ser a regra de fé e prática para o cristão.

Fontes

 

Introdução Bíblica. Como a Bíblia Chegou Até Nós – Norman Geisler, William Nix. Editora Vida.

Uma Glória Peculiar. Como a Bíblia se revela completamente verdadeira – John Piper. Editora Fiel.

Pilares da Fé. A Atualidade da mensagem da Reforma – Franklin Ferreira. Editora Vida Nova

teologiaemalta.blogspot.com.br/2009/05/sintese-como-biblia-chegou-ate-nos.html

http://novotempo.com/viva/como-a-biblia-chegou-ate-nos/

http://www.suaescolha.com/jesus/biblia/

Série Reformadores

Visão Geral da Reforma

Cinco Solas

A Bíblia e a Reforma

John Wycliffe

John Huss

William Tyndale

João Calvino

Marie Dentière

John Knox

Os Mártires de Guanabara

Martinho Lutero