“E toda a terra saberá que há Deus em Israel“.
Frase-chave de homens ousados o suficiente para testar os limites da convicção humana. De todos os seus registros na Bíblia, duas ocasiões em que foi mencionada merecem destaque: uma por Davi e outra por Elias.
Na história de Davi a circunstância desse brado (1 Sm 17.46), por mais que você não se recorde especificamente dela, com certeza é familiar. Começa no vale de Elá, opondo de um lado israelitas e de outro filisteus, rivais históricos no Antigo Testamento.
Do alto dos seus quase 3 metros de altura, um gigante guerreiro filisteu de nome Golias logo deu os termos da guerra. Era simples: “Escolhei dentre vós [israelitas] um homem que desça contra mim. Se ele puder pelejar comigo e me ferir, seremos vossos servos; porém, se eu o vencer e o ferir, então, sereis nossos servos e nos servireis” (vers. 8b-9). Ele era invencível e estava certo que o desafio lhe seria vantajoso. Ninguém era ameaça para ele. Esse foi o balanço feito pelo exército de Israel e seu líder, Saul, que se limitaram a olhar a situação com olhos humanos, atemorizados pelo gigante em razão de sua estatura e porte físico.
Ora, Israel era o povo escolhido por Deus, não havia razão para duvidar do livramento divino. Mas não. O mesmo povo que saiu do Egito após as dez pragas, atravessou a seco o Mar Vermelho e cruzou o deserto por quarenta anos sem ter as sandálias gastas era o povo amedrontado diante de um filisteu. A sequidão espiritual dos israelitas era tamanha que nem mesmo sua fama de povo escolhido por Deus era lembrada pelos seus inimigos; o próprio Golias sabia que aquele era um exército liderado por um homem e não pelo Senhor dos Exércitos: “Não sou eu filisteu, e vós, servos de Saul?” (17.8).
A afronta persistiu por vários dias. No entanto, tal repetição chegou aos ouvidos de um Deus misericordioso. Diante de tantos céticos, Seus olhos percorreram a terra em busca de alguém que realmente O conhecesse. Foi aí que encontrou Davi, homem segundo o Seu coração, apto a fazer toda a Sua vontade (At 13.22).
“Quem é, pois, esse incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?” (1 Sm 17.26), disse ele. Quando parecia que a chama no interior de Davi contagiaria os demais, o povo resistiu. Em vez de entender que o Senhor dos Exércitos queria lutar mais uma vez ao lado deles, a dureza do coração dos israelitas ainda se opôs à intrepidez do rapaz. Eliabe, seu irmão, logo o repreendeu. Saul tentou impedi-lo. Contudo, quando o rei ouviu o relato de como Davi havia matado tanto um leão como um urso para livrar um dos cordeiros do seu rebanho, percebeu que não estava diante apenas de um jovem voluntarioso. Diante dele estava de pé um valente instrumento do Deus vivo.
A armadura que lhe emprestaram não serviu. Claro, Deus não queria diminuir a tamanha disparidade entre o gigante fortemente armado e o menino franzino. É assim que Ele opera. Davi, então, equipou-se com um cajado, uma funda e cinco pedras lisas escolhidas a dedo em um ribeiro. Golias, ao olhá-lo, desprezou: “Sou eu algum cão, para vires a mim com paus?“. A resposta de Davi revelou o que realmente estava por trás da sua investida: “Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo, o Senhor te entregará nas minhas mãos; ferir-te-ei, tirar-te-ei a cabeça e os cadáveres do arraial dos filisteus darei, hoje mesmo, às aves dos céus e às bestas-feras da terra; e todas a terra saberá que há Deus em Israel. Saberá toda esta multidão que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra e ele vos entregará nas nossas mãos“.
Resultado: Davi, do alforje, tomou uma de suas pedras, colocou-a na funda e a lançou, para, heroicamente, atingir seu alvo. A vítima, sem reação, caiu com rosto em terra, para nunca mais se erguer novamente.
Por mais que esse fato seja amplamente conhecido, muitos não compreendem a real significação por detrás dele. O que pode passar despercebido aos olhos humanos é que não foi a coragem do menino Davi a responsável pelo seu sucesso diante do gigante Golias. Prova disso é o que nos conta o livro de Hebreus (11:32-34), ao afirmar que Davi, por meio da fé, tirou força da fraqueza e fez-se poderoso em guerra. Trocando em miúdos, o ingrediente secreto na pedra certeira lançada pelo gigante Davi na fronte do pequeno Golias era o que nenhum israelita de então demonstrou ter: fé.
Fé presente também na história de outro homem ousado no plano de Deus: Elias. Profeta, fez frente ao reinado de Acabe e de sua esposa Jezabel por trilharem caminho afastado do Senhor, trazendo a idolatria para o meio do povo de Israel.
Logo em sua primeira aparição, predisse grande seca sobre a terra. Foi então que Baal, tido por seus adoradores como deus das chuvas e da fertilidade, mostrou não passar de mais um ídolo morto quando a estiagem tomou o reino.
Assim, passados quase três anos e meio de seca, Elias se apresentou a Acabe para colocar um fim àquele cenário. Mas, antes disso, ainda era preciso mostrar ao povo de Israel, apegado à adoração de ídolos, que só havia um único Deus.
Todo o povo se ajuntou no monte Carmelo. Trouxeram dois novilhos para serem queimados, um tomado pelos 450 profetas de Baal e outro por Elias, único profeta da parte do Senhor. Não atearam fogo nos animais. Disse Elias: “Invocai o nome de vosso deus, e eu invocarei o nome do Senhor; e há de ser que o deus que responder por fogo esse é que é Deus” (1 Rs 18.24a). A proposta soou bem aos ouvidos de todos.
Os 450 tomaram lenha e sobre ela colocaram o animal. Invocaram a Baal da manhã até ao meio-dia, e depois de muito clamarem em alta voz e até de se retalharem, “não houve voz, nem resposta, nem atenção alguma” (v. 29b). Era a vez de Elias. Ele restaurou o altar do Senhor, que estava em ruínas, posicionou o novilho e derramou muita água sobre o holocausto. Orou: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique, hoje, sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo e que, segundo a tua palavra, fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me, pra que este povo saiba que tu, Senhor, és Deus e que a ti fizeste retroceder o coração deles” (vs. 36b-37). Então, diante de todo o povo e dos profetas de Baal, desceu fogo do céu, consumindo todo o altar. O povo, reconhecendo o Deus vivo, ergueu-se e matou os 450. Pouco depois Elias orou novamente e caiu grande chuva sobre a terra.
Assim como Davi, o profeta Elias também sabia que era necessário ter fé para alcançar a vitória. Por isso o Senhor pôde usá-los notavelmente e os chamou de “homens dos quais o mundo não era digno” (Hb 11.38). Através deles a mensagem de Deus foi transmitida: o único Deus tem o Seu povo. E mais: Ele quer que Seu povo O tenha como único Deus.
Hoje, nós somos Seu povo. Mas de que lado estamos? Do lado dos atemorizados diante de um gigante e subjugados por ídolos que nos afastam do Altíssimo? Ou do lado do pequeno Davi e do solitário Elias? “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o” (1 Rs 18.21a).
A fé de Davi e Elias, assim como a de muitos outros cristãos ilustres na Bíblia e fora dela, foi algo revolucionário. Sua revolução consistiu em quebrar o sofisma imposto pelo Inimigo de que não havia solução para o povo senão recuar. O poder dessa fé não alcança aqueles que planejam um caminho alternativo no caso das coisas não saírem como o esperado. Para recebê-la, é preciso permanecer “firme como quem vê aquele que é invisível” (Hb 11.27), sem ter como opção hesitar quando a ameaça do gigante ou a perseguição do rei idólatra bate à porta.
Essa fé não é algo exclusivo deles. Ela também está disponível para mim e para você! “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos” (Tg 5:17-18). A mesma fé que operou em Elias – homem sujeito aos mesmos sentimentos que nós – pode e precisa operar em você! Ela definirá a revolução de Deus em toda a sua vida. Viva pela fé!