“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gálatas 6:14).
O evangelho é algo envolvente. Ele traz a cruz e cruza o caminho daqueles que o recebem. O objetivo é uma profunda transformação na mente e no coração dos salvos. Antigas ligações são destruídas e novas são feitas. Agora, entre o cristão e o mundo, há uma cruz. Um está morto para o outro, não existindo relação entre a nova criatura e o velho sistema que odeia a Jesus (Jo 15:18) e que não devemos amar (1 Jo 2:15).
O apóstolo João resume o mundo em seus principais departamentos: “porque tudo o que há no mundo, a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a vaidade da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.” (1 Jo 2:16 – NVI). Assim, não devemos entender “mundo” apenas como estruturas e atividades exteriores. O que devemos considerar é a forma como essas questões afetam nosso relacionamento com Deus. Se nos deixarmos ser envolvidos pelas várias formas de entretenimento e até mesmo de ocupações que estão a nossa volta, seremos facilmente levados a pensar que não precisamos de Deus. Isso é ser envolvido pela vaidade da vida. O apelo dessas coisas é grande e, muitas vezes, sutil. Por isso, precisamos buscar discernimento diante de Deus para saber como lidar com elas.
Se morri para o mundo e nasci de novo para uma nova criação, não tenho mais nada a ver com ele. Não tenho nada a ver com aquela maneira de vida de uma pessoa que ignora a existência de Deus e suas exigências de santidade. Esse pensamento pode nos ajudar no aspecto de como iremos resistir às atrações do mundo.
Permita-me dar três exemplos para ilustrar essa ideia:
- Imagine um estrangeiro longe de seu país. Distante de casa, saudoso de sua terra, de seu povo e dos costumes de sua nação. Se algum nativo do país para o qual ele se mudou lhe questionar o motivo de ele não seguir algum costume daquela terra, o forasteiro pode responder: “é porque não sou daqui. Sou estrangeiro”. Na verdade, seria bastante estranho alguém cobrar um costume de um determinado país a alguém que não seja daquele lugar, não é mesmo?
- Imagine um aposentado que não gostava de seu trabalho. Por longos anos, ele não via a hora da aposentadoria chegar e estar livre daquela profissão que não gostava. Se algum desavisado pede a ele algum serviço do seu trabalho antigo, ele simplesmente responde, até aliviado: “desculpe, não estou mais trabalhando lá”.
- Imagine um atleta, nadador, que tem um amigo, também atleta, ciclista. Se o ciclista diz ao primeiro: “você precisa treinar mais! Desse jeito você não vai ganhar de mim no ciclismo”, seria uma frase bastante absurda, não é? O nadador talvez pudesse dar uma risada e responder: “mas não estou competindo nessa categoria”.
Quando Cristo morreu na cruz, de certa forma, morremos com Ele também (Rm 6:6). Ele nos incluiu ali. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17). A nossa velha maneira de nos relacionar com o mundo passou. Nos “aposentamos” daquele viver (na verdade, é bem mais que isso, morremos!) e podemos exclamar com alívio: “eu não tenho nada a ver com isso!”.
Então, não há razão para que nos sintamos obrigados a dar satisfação às pressões e tentações de uma sociedade corrompida. Não temos mais obrigação para com o sistema mundano, como tínhamos antes. Estamos livres! A questão é que, ao nascermos de novo, nascemos com uma nova nacionalidade. Somos estrangeiros nessa terra!
Se um pensamento tentador, um desejo impuro ou alguma busca por fama no mundo aparece repentinamente, podemos nos lembrar de toda a obra da cruz em um único instante, com as palavras “eu não tenho nada a ver com isso”! Se exercitarmos a fé nesses fatos, eles se tornarão realidade para nós. Não adianta o quanto o mundo fale ao apresentar-nos suas propostas e pressões. Uma simples frase rebate todas as suas palavras. Podemos dizer com grande alívio “não tenho nada a ver com isso, não sou mais parte desse sistema, não estou competindo nessa categoria”.
Tudo isso pode parecer um pouco difícil para você compreender ou talvez você não entenda o porquê tantos cristãos repreendem coisas que o mundo aprova. Pode ser que você não se sinta um estrangeiro, um “aposentado” ou até mesmo, que esteja tentando competir em duas categorias. Então, eu o convido a conhecer essa terra superior, essa pátria tão bela (Fp 3:20; Hb 11:16) e a história dessa nação (1 Pe 2:9) tão abençoada! Convido você a descansar na liberdade de Cristo, livre das pressões (que podem até vir de você mesmo). Convido-lhe para descobrir a vida tão plena que temos ao entregar o nosso tudo a Ele.
É mesmo surpreendente essa bênção de não ter nada a ver com o mundo, mas ter tudo a ver com Cristo. Que grande misericórdia recebemos Dele, em Seu evangelho tão libertador!
“… e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)