A história a seguir não é verídica. Mas poderia ser.
– “Então, vi que ela estava sozinha e fui conversar com ela, ver se estava bem… mas ela respondeu tão rápido e disse que já precisava ir, sabe? Parecia que não queria assunto. Pode ser só impressão minha, mas acho que ela tenta fugir das pessoas. Acho que não vou tentar mais puxar assunto”.
– “Poxa, complicada essa situação, mas ouvi esses dias a história de vida dela e entendi melhor porque ela fica distante. Quando era bem pequena, o pai faleceu, e ficou morando com a mãe e dois irmãos menores por um período somente. Por falta de condições financeiras a mãe a entregou para os tios cuidarem. Parece que ela tinha apenas sete anos quando isso aconteceu. Como os tios trabalhavam muito e quase não ficavam em casa, quando não estava na escola ela cuidava dos dois priminhos menores e ajudava a arrumar as coisas em casa. Foram muitas coisas para administrar na infância, deve ter sido difícil, principalmente por não ter os pais por perto. Agora, já crescida, veio morar aqui na cidade por causa da faculdade. Mora sozinha e trabalha para pagar os estudos, precisa sair cedo de casa e chega tarde todos os dias. Dá um aperto no coração, deve ser complicado pra ela! Conheci essa parte da história porque ela é vizinha de uma irmã da igreja que me contou e pediu para que eu cuidasse dela. Vejo que, por tudo o que ela já passou, precisa de muito apoio. Sei que parece ser impossível a aproximação, mas talvez ela tente se esconder assim para não ter que falar com as pessoas sobre a dor dela. Vamos orar ao Senhor para que a gente possa se aproximar aos poucos e para que ela possa ser cada dia mais curada de tudo o que já passou”.
Frequentemente nos deparamos com histórias parecidas. Em minha experiência, já julguei muitas pessoas no meu coração só por vê-las exteriormente, pelo modo de falar ou de se comportar. E algo que sempre acontecia era que quando eu conhecia a história de vida das pessoas que havia julgado, me sentia profundamente envergonhada. Pela muita misericórdia do Senhor, Ele foi me mostrando que as pessoas têm histórias. Não posso pensar nas atitudes delas como simples ações isoladas, porque são resultado dessas histórias.
Pensando na narrativa anterior, as atitudes podem ser fruto de uma situação recente, como por exemplo, uma resposta indelicada, por conta de irritação ou cansaço. Ou podem ser fruto de uma história muito mais profunda: a pessoa age de certa forma com frequência porque passou por muitas dificuldades na vida e, por isso, está em meio a muitos sofrimentos – ainda não foi curada de sua dor. Em qualquer uma das situações, podemos ter duas atitudes: sentir-nos ofendidos pelo modo como fomos tratados, ou perdoarmos e nos inclinarmos a compreender quem nos tratou mal.
É importante buscar sempre ter a segunda atitude, mas ela pode se revelar um tanto ineficaz se feita em nós mesmos. Podemos nos esforçar muito, procurar métodos para um bom relacionamento com as pessoas e, assim, até conseguir, compreender quem nos feriu, mas sempre haverá uma situação em que pensaremos: “Isso foi injusto. Fiz o bem, tentei ajudar e sem motivo nenhum essa pessoa me ofendeu. Quando precisou de ajuda, estive sempre disponível e, agora, faz isso comigo”. Infelizmente este posicionamento ainda pode ocorrer conosco mesmo que haja muita insistência para não o termos. E por mais que tentemos pensar o bem das pessoas, acabamos nos ofendendo com algumas atitudes delas. Esse é um conflito real na vida de todo o ser humano que busca, por si só, ter disposição positiva frente às situações de conflito com as pessoas (cf. Romanos 7:15-20).
Mas calma, querido jovem! Existe uma solução para reagirmos com eficiência ao buscarmos compreender o outro em qualquer situação. Essa solução não é fruto de um esforço nosso, mas é uma Pessoa: Jesus!
Sim, Jesus! Para explicar melhor, vamos mostrar dois momentos da vida do Senhor, dos tantos outros em que Ele sofreu injustiças e vejamos quais atitudes Ele teve.
Alimentando as multidões
O Senhor sempre teve um cuidado impressionante com as pessoas! Ele percorria cidades e povoados com os discípulos, ensinava nas sinagogas, pregava o evangelho do reino, curava muitas doenças e enfermidades (Mateus 9:35), tudo isso incansavelmente, e sempre com muito amor. Inclusive, em certo dia, Jesus levou os discípulos a um lugar deserto porque via como eles estavam cansados pela intensidade do dia a dia em cuidar das pessoas que iam sempre ter com Ele. Estavam até mesmo sem tempo para comer. Então foram à um lugar deserto e quando chegaram ao seu destino e desembarcaram, Jesus viu ali uma grande multidão. Ele se compadeceu dela, a acolheu, curou os que estavam doentes e ensinou muitas coisas. Foi ficando tarde e os discípulos se preocuparam. Disseram ao Senhor para despedir as multidões para que elas pudessem comprar, pelas aldeias, o que comer. Mas, Jesus pediu para que os próprios discípulos dessem a todos o que comer! Eles só tinham cinco pães e dois peixes, mas foi o suficiente para que Jesus fizesse o milagre da multiplicação e alimentasse abundantemente toda aquela multidão (Mateus 14:13-23; Marcos 6:31-46; Lucas 9:10-17; João 6:1-14)!
O Senhor deve ter observado as pessoas naquele momento como um pai que vê seus filhos pequenos comerem quando estão com fome. O mesmo cuidado em saber se estão sendo saciados, atento a alguma necessidade que possa surgir para que o momento da alimentação seja completo, com o coração alegre por ver que filhos estão sendo supridos. Penso em como deve ter sido lindo ver a alegria no coração do próprio Senhor cuidando daquelas pessoas!
Há ainda outra parte desse mesmo momento que imagino ter sido muito especial. Após alimentar as pessoas, o Senhor pediu para os discípulos irem para o barco enquanto Ele as despedia. Quanto tempo será que o Senhor utilizou para se despedir daquela grande multidão? Será que O Senhor abraçou muitas daquelas pessoas? Será que ouviu aqueles que, depois que passaram por aquele momento, precisavam agradecer ou queriam conversar um pouco com Ele a sós? Bom, não sabemos o que houve ao certo nestas entrelinhas, mas uma coisa é certa: Ele investiu tempo naquele simples momento de despedida. Só pela preocupação da multidão ser alimentada e se despedir dela, percebe-se o Deus de detalhes e de amor que nosso Senhor é.
Depois de entender esses acontecimentos ficamos alegres pelo cuidado tão amoroso do Senhor para com aquelas pessoas. Inicialmente podemos pensar que elas devem ter sido muito gratas e começaram a buscar o Senhor, dedicando suas vidas a Ele. Mas não foi isso que aconteceu.
Em João 6:22-26 vemos que a multidão tornou a procurar Jesus no dia seguinte, só que não O estavam procurando porque viram os sinais que Ele fazia, mas porque eles tinham comido o pão físico e tinham se fartado.
Ó Senhor Jesus! O quão doloroso deve ter sido para o Senhor. Se Ele fosse alguém diferente de quem Ele é, provavelmente teria desistido logo de toda a humanidade, visto que conhecia a natureza humana e não precisava que ninguém Lhe falasse como o ser humano é (João 2:25). Ele sabia que eram pecadores e que por isso, tinham em si a ingratidão, segundas intenções e que eram falhos no amor (cf. Romanos 7:15-20). Mas, mesmo assim, Ele não desistiu! Foi fiel até o fim, mesmo não sendo valorizado e amado por muitas daquelas pessoas. Jesus continuou pregando o evangelho a elas, continuou curando-as e entregou Sua vida por elas e por nós! Ah, e nesse assunto tão sublime, chegamos a outro momento muito importante em que o Senhor teve mais uma vez a atitude que precisamos ter: a do perdão.
Na segunda e última parte desse texto falaremos sobre o sacrifício que Cristo realizou por nós. O texto vai ao ar na próxima sexta-feira, 8/11. Fiquem ligados. Que Deus os abençoe!