Em geral, a convivência humana é muito complexa. Desde os tempos mais antigos, os homens tentam aprender a conviver entre si. Sociólogos ainda tentam achar meios para desvendar quais problemas, na sociedade, causam essa dificuldade, afim de resolvê-los. Entre todos os problemas que afligem a sociedade, um dos principais é a incapacidade de perdoar. Não é difícil encontrar casos de pessoas que ofenderam outras e viveram até o fim de suas vidas sem procurar se reconciliar – sejam conhecidos, antigos amigos, familiares ou, o que mais entristece a Deus, irmãos em Cristo.
Primeiro, vamos ver o que se fala sobre o perdão na Bíblia em uma das passagens mais famosas sobre o assunto. Quando Pedro pergunta ao Senhor: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?”, o Senhor lhe responde: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” (Mt 18:21-22 ; Lc 17:3-4). No momento em que Pedro perguntou isso ao Senhor, provavelmente tinha algo em mente – é provável que ele já tivesse sido ofendido por alguém e queria saber até onde deveria perdoar, e isso o fez pensar: “Perdoar até sete vezes é o suficiente.” Mas o Senhor já disse algo para acabar com qualquer pensamento desse tipo: “(…) setenta vezes sete.” Isso não quer dizer que devemos perdoar 490 vezes, mas que sempre devemos perdoar aqueles que nos ofendem.
Porém, agora entra a parte difícil: como perdoar? Realmente não é fácil, principalmente quando a pessoa não pediu perdão a você. Em 1 João 4:19 está escrito: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.” Logo, nosso amor pelas pessoas deve ser baseado no amor de Cristo para conosco e Cristo não esperou que todos se arrependessem para morrer por nós – Ele morreu para que possamos nos arrepender e ser perdoados. Logo, se alguém pecar contra nós, nós também precisamos morrer. Mas como assim “nós precisamos morrer”?
Em Romanos 8:13, Paulo escreve: “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis”. E em Gálatas 5:19-21: “Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, (…) inimizades, (…) discórdias, dissensões, facções, (…)”. Então, vemos aqui que mortificar os feitos do corpo (carne) é negar tudo o que é obra da carne. Quando Cristo morreu por nós, Ele abriu mão de muitas coisas e assim também nós devemos abrir mão do que nos seria mais fácil. É muito mais fácil, uma vez que somos ofendidos, dizer: “não quero mais saber dessa pessoa”, e seguir a vida normalmente ignorando a existência dela. Mas sabemos que não é assim que funciona. Começa como uma repulsa que cresce cada vez mais e, quando percebemos, já temos um forte sentimento contra a pessoa.
Então, mortificar os feitos do corpo é sair da nossa zona de conforto e fazer o que seria mais difícil para nossa carne: perdoar. Mas não somos capazes de fazer isso por nós mesmos. Em Daniel 9:9 está escrito: “Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão (…)”. Já vimos que o primeiro passo é morrer e aceitar sair da zona de conforto da carne, e agora vemos o segundo passo: pedir que Deus dê a você a capacidade de perdoar! E para isso, nada melhor que um momento de comunhão íntima com o Senhor.
Infelizmente não é possível dizer exatamente como reagir no momento em que você irá perdoar, pois varia muito em cada caso. Mas graças ao Senhor, pois Ele colocou irmãos que podem nos ajudar nessa situação. Procure um irmão de confiança, de preferência um irmão mais maduro, conte-lhe a situação e peça ajuda. Porém, o mais importante que desejo passar com esse texto é que, em uma situação a qual algum irmão venha a lhe ofender, abra mão do egoísmo da carne e, logo após, ore ao Senhor, mostre a Ele tudo o que te ofendeu, tudo que está incomodando você e diga de todo o seu coração: “Senhor, eu quero perdoar!”. O Senhor honrará o seu coração com o dom do perdão que provém Dele.