No capítulo 9 do livro “Não ameis o mundo”, Watchman Nee, depois de já ter pincelado algo sobre o sistema espiritual mundano, que é contra Deus, levanta a questão dos limites do envolvimento de um cristão com o mundo. “Até que ponto posso me envolver com o mundo?”. Certamente essa questão pulsa na mente dos jovens, principalmente dos universitários.
Vale ressaltar, primeiramente, que não devemos nos isolar. Muitas vezes parece mais fácil o isolamento total do mundo, sem manutenção de nenhum contato. Mas há um grande detalhe: Deus amou ao mundo (Jo 3:16). Em João 17, Jesus não orou para que o Pai nos tirasse do mundo, mas sim que nos guardasse do mal. Ou seja, Ele nos quer aqui. Trabalhamos, estudamos, temos afazeres e negócios neste mundo, convivemos com pessoas. Não devemos cortar relações com os pecadores do mundo, porém existe um limite de envolvimento para não sermos contaminados.
Sabedores da realidade espiritual do mundo, sentimos que, ao tocá-lo, devemos fazê-lo com temor e tremor, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé (Hb 12:2), para não cairmos nas armadilhas do inimigo de Deus. Por um lado, nosso Senhor quer que levemos as boas novas a todas as pessoas, principalmente àquelas com as quais temos contato diário. Entretanto, por outro lado, precisamos respeitar um limite de envolvimento, para que não sejamos manchados por este mundo perverso (Gl 1:4), por esta geração pervertida e corrupta (Fp 2:15).
Diante de tal impasse, somos obrigados a nos lançar nos braços do Senhor. Aleluia! Não estamos presos a regras, dependemos de Cristo. Nossos limites não se constituem em imposições exteriores, mas são os limites da vida de Deus, que está em nós. O segredo é permanecer no Senhor: “a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou” (1 Jo 2:27). Diante da pergunta sobre como identificar os limites do nosso envolvimento com o mundo, a resposta é: permanecer em constante comunhão com o Senhor. O Espírito Santo em nossos corações identificará esses limites e nos iluminará. O Senhor é realmente muito simples!
Sobre o mesmo assunto, em 1 Coríntios 7 Paulo fala: “Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se não o fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa. O que realmente quero é que estejais livres de preocupações” (vs. 29-32a). Nessa passagem paradoxal, o apóstolo destaca que o tempo se abrevia e que precisamos nos desapegar do domínio das coisas desse mundo. Se você tem riquezas, viva como se não tivesse: desapegue-se. Não é pecado comprar e se alegrar, mas precisamos nos desapegar dos efeitos da compra e da aparência de alegria. O Senhor criou o homem para dominar sobre todas as coisas (Gn 1:28), mas o sistema do mundo tenta nos dominar. Livremos nosso coração do domínio das coisas deste mundo e de seu sistema maligno. Somos aqui estrangeiros e peregrinos, forasteiros. Somos nessa terra como um mergulhador no fundo do mar: só permanecemos aqui enquanto temos tarefas a cumprir e suprimento de ar. O Espírito é-nos esse suprimento inesgotável e a cargo de Deus, não do homem. Dessa forma, se o Senhor nos colocou aqui, Ele mesmo provê nosso suprimento de Espírito para vencer o mundo ao nosso redor, pois não pertencemos a ele, não respiramos o ar do mundo.
À vista de tudo isso, estejamos sempre atentos à direção do Consolador, o Espírito, que é o próprio Cristo e que está para sempre conosco (Jo 14:16-19). Os limites do nosso envolvimento com o mundo não estão traçados no chão ou em alguma parede, tampouco estão escritos numa folha de papel, mas estão inscritos em nossos corações. Somos sustentados pelo Senhor e não devemos preocupar-nos em parecer espirituais ou em nossa própria preservação espiritual. Precisamos é permanecer no Senhor: Ele é quem nos supre. Nada pode subjugá-Lo e a Ele pertencemos, pois sabemos que somos de Deus (1 Jo 5:19). Assim sendo, onde quer que formos, venceremos todas as hostes do maligno, pois a vida de Deus o subjuga.
Deixe Deus ocupar todo o espaço para Si, e que lugar sobrará para o maligno?
Artigo inspirado no livro Não Ameis o Mundo, de Watchman Nee, Editora dos Clássicos (2008).
Artigos da série:
A Mente Por Trás do Sistema – Série “Não Ameis o Mundo” (1)
Tendência Oposta a Deus – Série “Não Ameis o Mundo” (2)
Um Mundo Sob a Água – Série “Não Ameis o Mundo” (3)
Crucificado para Mim – Série “Não Ameis o Mundo” (4)
Diferenciação do Mundo – Série “Não Ameis o Mundo” (5)
Luzes no Mundo – Série “Não Ameis o Mundo” (6)
Desapego – Série “Não Ameis o Mundo” (7)
O Refrigério Mútuo – Série “Não Ameis o Mundo” (8)
Minhas Leis em Seus Corações – Série “Não Ameis o Mundo” (9)
Os Poderes do Mundo Vindouro – Série “Não Ameis o Mundo” (10)