Nascida em 1495, na pequena nobreza de Flandres, em Tournai, Bélgica. Dentière, antes católica, foi freira e passou boa parte da vida num convento agostiniano. Ela tinha acesso livre à biblioteca, onde encontrou escritos de Lutero. Converteu-se à Reforma Luterana, em 1524, quando ainda morava no convento e, então, abandonou o lugar, fugindo para Estrasburgo, um ponto de encontro de huguenotes – protestantes franceses – e outros protestantes que eram perseguidos em suas nações.
A partir da leitura da Palavra de Deus e dos textos bíblicos usados pelo grande reformador, Lutero, seus olhos foram abertos à verdade e ela experimentou o que é dito em João 8:32: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Ficou quatro anos em Estrasburgo. Acompanhava seu compatriota, Guilherme Farel, um dos líderes da Reforma, nas evangelizações. Casou-se em 1528 com Simão Roberto, um jovem ministro, com quem teve dois filhos. Seu marido faleceu cinco anos após o casamento. Viúva, casou-se com um pregador chamado Antônio Froment.
Por volta de 1535, mudou-se para Genebra, tornando-se a primeira mulher teóloga da Reforma ali e enfrentou forte oposição baixo às regras do Duque de Saboia. Sofreu perseguição principalmente por parte das autoridades católicas, que impediam qualquer publicação escrita por uma mulher.
Mas Dentière sempre declarou seu desejo de encorajar as mulheres a não terem medo de serem exiladas por causa da Palavra de Deus. Ela escreveu, por exemplo, o prefácio para um sermão de Calvino sobre como as mulheres deveriam vestir-se, guardando o corpo com santidade. Este sermão foi impresso, o texto, confiscado pelo governo de Genebra, e o gráfico que o imprimiu, preso.
Tais perseguições não foram impedimento para que Marie permanecesse de pé. Dentière estava certa de que a Bíblia é o único fundamento da verdade e encorajava, principalmente, as mulheres a terem um espírito de ousadia e destemor. Marie conseguiu ir ao centro das questões religiosas da época com muita inteligência e compaixão. Certa vez, ao visitar o convento de Jussy, para tentar, convertê-lo à Reforma, ela fez uma das mais lindas declarações de fé: “Passei muito tempo na escuridão da hipocrisia. Mas somente Deus foi capaz de fazer-me enxergar minha condição e conduzir-me à luz verdadeira”.
Foi por intermédio da luz verdadeira que ela entendeu sua história e no que Genebra havia se transformado. Na carta Defesa das Mulheres, uma das duas que escreveu para a rainha Marguerite de Navarra, Dentière conclui fazendo um apelo à rainha, para que esta interceda junto ao irmão, o rei da França, a fim de que se elimine a divisão entre homens e mulheres, pois elas também recebiam revelações que não podiam ficar escondidas.
Em 3 de novembro de 2002 seu nome foi gravado no Monumento Internacional da Reforma, em Genebra, por sua contribuição à história e à teologia da Reforma, tornando-se a primeira mulher a receber tal reconhecimento.
Em certos momentos, deparamo-nos com situações que realmente parecem uma perseguição. Seja por meio de um comentário de alguém, seja pressão do mundo, dentre outras coisas, e, muitas vezes, tiramos o foco da nossa única referência, a Bíblia. O Senhor precisa de pessoas assim como Marie Dentiere, corajosas para serem diferentes das que estão no mundo, que tenham a Bíblia como sua única referência e vivam o que ela diz. Como a mãe de Moisés, que desafiou o decreto de Faraó para proteger seu filho; a mulher samaritana, que se tornou pregadora após encontrar-se com Jesus, e as mulheres que estavam no sepulcro vazio, onde foram convocadas pelo próprio Mestre a divulgarem a ressurreição.
Note que a Bíblia e a história trazem exemplos de mulheres muito importantes para a obra do Senhor. De maneira alguma se deve pensar que as mulheres são menos usadas por Cristo. Nele não há tal distinção (Gl 3:28). Pessoas ousadas, audaciosas e intrépidas, que não estão de acordo com a excessiva massificação dos dias atuais e que conhecem o seu Senhor. Pessoas que sabem em Quem creem e não se apegam a este mundo, mas acumulam tesouros nos céus, porque são eternos.