Após uma pequena pausa, retornamos à nossa série sobre Eclesiastes! Desta vez, para ver ensinamentos do livro acerca das injustiças desta vida.
Eclesiastes e as injustiças desta vida
Como temos visto, o Pregador de Eclesiastes observa as atividades humanas cotidianas e descobre lições importantes a partir do que vê. Assim, era de se esperar que ele fizesse comentários a respeito das injustiças desta vida. Ele diz:
“Observei também que debaixo do sol há maldade onde deveria haver justiça. Sim, até os tribunais são corruptos” (Ec 3:16 – NVT).
Ainda em outros trechos, ele denuncia a injustiça e a opressão na sociedade (por exemplo, em: Ec 4:1; 5:8).
Materialismo e individualismo
As principais causas de injustiças comentadas no livro de Eclesiastes são relacionadas à ganância e a uma forma de pensar que se preocupa apenas com os próprios benefícios. Comentamos mais sobre a ganância em um texto anterior da série. Logo após falar sobre opressão (Ec 4:1), o Pregador critica o trabalho motivado por inveja (Ec 4:4) e ensina a ser contente tendo o que é necessário:
“É melhor ter um punhado com tranquilidade que dois punhados com trabalho árduo e correr atrás do vento” (Ec 4:6 – NVT).
Ele prossegue mostrando seu espanto ao ver quem trabalha pensando apenas em si mesmo:
“Observei outra coisa que não faz sentido debaixo do sol. É o caso do homem que vive completamente sozinho, sem filho nem irmão, mas que ainda assim se esforça para obter toda riqueza que puder. A certa altura, porém, ele se pergunta: “Para quem trabalho? Por que deixo de aproveitar tantos prazeres?”. Nada faz sentido, e é tudo angustiante.” (Ec 4:7 – NVT).
Então, ele instrui a fazer o oposto, valorizando o próximo e reconhecendo nossa dependência uns dos outros:
“É melhor serem dois que um, pois um ajuda o outro a alcançar o sucesso. Se um cair, o outro o ajuda a levantar-se. Mas quem cai sem ter quem o ajude está em sérios apuros.” (Ec 4:9,10).
O materialismo e o individualismo são muito comuns nos dias de hoje e geram muitas formas de injustiça na sociedade. Precisamos avaliar se não estamos sendo influenciados por essas formas de pensar, pois Jesus nos instruiu exatamente o contrário delas. Ele ensinou por suas palavras e por seu exemplo, o amor que se entrega em lugar do próximo e não busca os próprios interesses. E é como Ele que devemos ser (Jo 15:12-13).
O julgamento virá
Eclesiastes nota as injustiças, mas apresenta esperança:
“Disse a mim mesmo: ‘No devido tempo, Deus julgará tanto os justos como os perversos, por tudo que fizeram’” (Ec 3:17 – NVT).
As injustiças são reais e frequentes na sociedade. Apesar disso, podemos confiar que Deus é justo, e sua justiça será feita em momento oportuno. Outra afirmação parecida é feita em Eclesiastes 12:13-14.
Criação e queda
Nesta certeza, encontramos esperança para uma grande inquietação de nossos corações: este mundo não é como deveria ser. Ansiamos pelo fim dos crimes e corrupção. Desejamos uma realidade de justiça. E o fazemos porque fomos criados para viver e nos relacionar com um Deus que é justo, adorá-Lo e expressá-Lo. Mas o que vemos e vivemos é bem diferente, como explica o Pregador:
“Foi isto, porém, que descobri: Deus criou os seres humanos para serem justos, mas eles buscaram todo tipo de maldade” (Ec 7:29 – NVT).
Fomos, no entanto, desviados do objetivo para o qual fomos criados, devido a entrada do pecado na humanidade, a disposição para fazer o mal, que nos coloca em rebeldia contra Deus. Por isso, o Pregador disse: “Não há uma única pessoa na terra que sempre faça o bem e nunca peque.” (Ec 7:20 – NVT). O mesmo é dito em Romanos 3:23-24, agora, porém, diante da revelação de Cristo!
“Pois todos pecaram e não alcançam o padrão da glória de Deus, mas ele, em sua graça, nos declara justos por meio de Cristo Jesus, que nos resgatou do castigo por nossos pecados.” (Rm 3:23-24 – NVT).
Graças a Deus! O que não poderíamos alcançar por nós mesmos nos é concedido por Cristo. Nós não conseguimos ser justos, mas Ele é totalmente justo e sua justiça é imputada a nós, os que cremos. E Ele nos conduz a amadurecer na nova vida que nos deu, possibilitando que, pouco a pouco, expressemos sua justiça em nossas vidas e cumpramos o que Ele instrui: “assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16).
Tal justiça será plenamente manifestada em nós e para todo o mundo no reino eterno de nosso Senhor.
Esperança, não nesta vida
Enquanto não chegamos lá, vemos injustiças por causa do pecado, presente em toda a humanidade. O Pregador mostra sua indignação:
“Vi perversos serem sepultados com honra; frequentavam o templo e hoje são elogiados na mesma cidade em que cometeram seus crimes. Isso também não faz sentido. Quando um crime não é castigado de imediato, as pessoas se veem incentivadas a fazer o mal. Mas, ainda que alguém peque cem vezes e continue a viver por muito tempo, sei que aqueles que temem a Deus terminarão em situação melhor (…) Há mais uma coisa que não faz sentido em nosso mundo. Nesta vida, justos muitas vezes são tratados como se fossem perversos, e perversos, como se fossem justos. Isso não faz sentido algum!” (Ec 8:10-12,14 – NVT).
Embora devamos, segundo o caráter de Jesus, nos compadecer de quem é injustiçado, expressar e desejar justiça, não devemos esperar por ela de maneira plena nesta vida. Como nos versículos acima, sabemos que, muitas vezes, perversos recebem honra, enquanto justos são punidos. Mas, o Pregador afirma, embora ainda não tivesse clareza a respeito do Reino do Senhor Jesus: “aqueles que temem a Deus terminarão em situação melhor”.
Nossa atitude
Eclesiastes possui momentos que parecem bastante pessimistas e estes certamente são alguns deles. Mas não nos enganemos: o livro contém lições importantíssimas e sempre aponta o caminho: temer a Deus, isto é, andar de maneira respeitosa e obediente a Ele.
O Pregador, embora tivesse alta posição e recursos, não deixava de perceber a realidade dos mais fracos e os problemas da humanidade. Independentemente de nossa condição, sejamos sensíveis às dores dos que estão à nossa volta, enxergando as injustiças desta vida à luz da história que as explica: a queda, que tornou todos os seres humanos em pecadores.
Essa história, porém, não terminou neste ponto. Naquilo em que o Pregador apresentava grandes necessidades, o Novo Testamento trouxe respostas claras e cheias de vida. Na pessoa do Senhor Jesus veio nossa redenção tão esperada, possibilitando que sejamos completos e libertos para viver de maneira plena o que fomos criados para ser. Em Cristo podemos realizar as boas obras para as quais fomos criados (cf. Ef 2:10). Por sua graça, podemos ser libertos do materialismo e individualismo, tão presentes na sociedade, e expressar o amor e generosidade de Deus.
E Ele confiou à sua Igreja a tarefa de representá-Lo nesta terra, reconciliando pessoas com Deus. As injustiças são sinais do rompimento entre a humanidade e Deus. Mas, por meio de Seu povo, movido em Sua compaixão, Ele agora manifesta a reconciliação (cf. 2 Co 5:18-20), a qual será completa em seu reino eterno!
Escrito com a colaboração de Victor Henrique.
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